domingo, 26 de dezembro de 2010

A síndrome dos excessos

Os excessos e seus problemas têm sido causa de grande pesar para a humanidade. Para mudar a questão, necessário o emprego da consciência; se não pela razão, pela religião.

A princípio, homens e mulheres se reuniam em pequenas comunidades onde sabiam pensar e agir em grupo, visando ao bem comum. Os homens caçavam e pescavam enquanto as mulheres colhiam frutos. O exercício e as dificuldades enfrentadas na busca pelo alimento determinaram a vida sem excessos alimentares, bem como o equilíbrio entre a quantidade ingerida de alimentos/nutrientes e a energia gasta com as atividades cotidianas. O que se tinha eram homens e mulheres fortes, e não gordos.

Além do aspecto físico, o senso de responsabilidade grupal também dava equilíbrio à vida humana. Porém, a humanidade não se satisfez com a vida simples e comum. A inteligência, coroada pelo livre-arbítrio, fez com que alguns membros, notadamente, do sexo masculino, se destacassem e buscassem alguma diferenciação.

Surgiram, então, decorrente da fase chamada de Astrolatia, os “agentes de interpretação do divino”, que mais tarde seriam chamados de “sacerdotes”, homens ditos mais inteligentes que, pela sua intelectualidade, não se davam às tarefas práticas do cotidiano, que envolviam esforço físico. E como as atividades mentais exigem outro tipo de nutrição e não se sabia disso, começaram aí as carências alimentares de um lado e os excessos de outro.

Este fator em questão desencadeou uma relação de importâncias sociais em que os que se destacavam em inteligência e assumiam postos de sacerdotes (especialistas em decifrar as mensagens dos deuses astrais) se sobrepunham aos demais, destinados às tarefas braçais, com os primeiros exercendo poder de comando e influência sobre estes.

A humanidade estabeleceu, a partir de então, uma relação de poder e dominação: do mais forte para o mais fraco, do mais para o menos inteligente, do mais rico para o mais pobre e assim por diante. Porém, o modo de se alimentar e viver a vida não se adaptou ao surgimento das diferenças. Perdeu-se totalmente o senso de importância do grupo e o individualismo calcado na ignorância, e não no aperfeiçoamento pessoal, suscitou nos grupos disputas pelo poder através dos espaços e graduações que cada um conquistava na sociedade.

A lei do “pode mais quem tem mais” se instaurou sorrateiramente no comportamental humano e refletiu no campo da alimentação. Não foi à toa que a Renascença, que foi o ápice desse processo, foi marcada pelos excessos; tanto, que o bonito na época era ser gordo.

Durante muito tempo, desde a febre renascentista, gordura era sinal de saúde e esta foi uma crença certa até meados dos anos sessenta, quando livros como “A Vida do Bebê”, do Dr. Rinaldo De Lamare, se espalharam no mundo ocidental enaltecendo a boa alimentação, nutritiva e sem excessos, como fonte de saúde. Mesmo assim, somente no final do século passado, com a constatação do aumento considerável no índice das patologias e mortes associadas à gordura é que essa ideia começou a preocupar a população a ponto de provocar uma mudança drástica em seus hábitos.

Todavia, o excesso desenvolveu-se em forma de síndrome, através da qual a obesidade é apenas o mais temido de seus sintomas.

Cientistas e biólogos afirmam veementemente que o aumento da obesidade no mundo atual, que atingiu um ponto realmente crítico, tem origem na grande oferta de alimentos e sua característica facilidade em consegui-los, proeminente em nações em desenvolvimento acima. Juntem-se a isto as frustrações emocionais, o corre-corre desmedido pela eterna conquista de algo novo e maior, o distanciamento entre as pessoas, que também competem entre si pela própria realização, e tem-se o quadro discrepante que acusa o aumento exagerado do índice de obesidade em grande parte do mundo em oposição à fome desmedida em certos países, especialmente, africanos, onde muita vez o alimento servido é bolacha de barro batido para comer e urina de vaca para beber.

Embora se tenha conhecimento do que rege e determina uma boa alimentação para cada tipo de indivíduo, a humanidade prefere fechar os olhos para o que sabe e levar uma vida “prática”, alimentando-se de pratos rápidos para sustentar um corpo que quase não se movimenta mais, prostrado que fica diante dos computadores pessoais que conecta sua mente ativa com o mundo.

A necessidade de adaptar o tipo de alimentação para seu estilo de vida, bem como o crescimento de mortes por decorrência da obesidade, parecem não ser conhecimentos suficientes para mover o ser humano para uma mudança significativa nos hábitos alimentares. Isto nos leva a crer que este tipo de descontrole está ligado a outros, que juntos formam uma espécie de síndrome do excesso

Culpa disto pode estar no pensamento cartesiano, que impede ao ocidental de colocar seu foco para além da visão de mundo que já se tem e que está perigosamente associado ao capitalismo consumista.

Notemos, pois, que não há. De fato, uma consciência plena das necessidades humanas, uma vez que o ser humano comete excessos no poder que conquista e na conquista desmedida por obtê-lo; no falar que julga sem investigação prévia e fere sem zelo pelo moral. Há excessos na política que deseja o domínio e não a justiça e o desenvolvimento; e há excesso no exercício do livre-arbítrio humano, que a nossa raça terráquea insiste em confundir com “fazer o que vier à telha”.

Numa época em que se difunde a sustentabilidade nos meios ambientalistas, que futuro a humanidade pode esperar se não guarda este princípio para a própria sobrevivência da espécie?

Obviamente, não estou mais falando somente de obesidade, mas da total falta de consciência de que, para que possamos existir amanhã e depois de amanhã, urge enfrentarmos com coragem hoje as nossas idiossincrasias para aprendermos, definitivamente, a viver apenas com o necessário, erradicando por completo as carências e, sobretudo, os excessos. Pois são estes os elementos que mais insultam a inteligência que elevou o homem à condição de Homo sapiens sapiens.

Se o leitor não compreender o sentido do que foi posto aqui pelo filtro da ciência ou da medicina, nem mesmo pelo olhar filosófico que pretende encontrar e enaltecer a verdade, que olhe com os olhos herdados do catolicismo, que classifica como pecado a prática de toda gula, seja ela por alimentos, bens ou por poderes.

Lúcia Roberta Mello

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O amor aproxima

O amor é sempre atrativo. Não somente de um jeito
sensual, como estamos acostumados a atribuir o amor, mas de um jeito magneticamente irresistível, que atua desta mesma forma em qualquer corpo ou dimensão existencial.
Masaru Emoto, um fotógrafo japonês, resolveu fotografar cristais de água em vendo-os tão diversos, submeteu-os às emanações humanas. Então, descobriu que as moléculas da água se agregam ou se afastam conforme a emanação é de boa ou má qualidade.
Os estudos de Emoto, apesar de não haver respaldo científico, é uma prova de que isto ocorre.
Quando o amor irradia por nosso corpo, ele alimenta cada partícula da água da qual somos feitos, aproximando irresistivelmente as moléculas do nosso sistema, que passam a vibrar em harmonia, gerando um estado de saúde plena. É isto o que buscamos e é apenas isto que Jesus nos recomendou: o amor.
O amor como forma de purificação: "Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro" (1 Pedro, 1:22). E o amor como forma de unificação com Deus: "Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus" (Mateus, 5:44).
Estamos vivendo uma época difícil, na qual o maior desafio é a ausência de amor em nossos corações. Pois que esta carência nos afasta uns dos outros e nos afasta de Deus.
Gandhi nos ensina acerca disto com a seguinte história:
Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:
– Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
– Gritamos porque perdemos a calma – disse um deles.
– Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? – Questionou novamente o pensador.
– Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça – retrucou outro discípulo.
E o mestre volta a perguntar:
– Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.
Então, ele esclareceu:
– Vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?
O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.
Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Por fim, o pensador conclui, dizendo:
– Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.
O amor ensina irradia nosso eu superior, cura as mazelas de nossa alma, liberta-nos dos grihões da carne e da ignorância e pronuncia a voz de Deus através do que somos.
Lúcia Roberta Mello

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Apoio à Presidenta!

As eleições levaram Dilma Rousseff à presidência da República, como era o esperado e foi apontado pelas pesquisas. Parabéns à mulher, que registra o gênero pela primeira vez na história das presidências do nosso país e se autointitula "Presidenta", e não presidente, talvez pelo fato de o termo ter sido criado para marcar a alguma atuação da mulher na sociedade, numa época em que mulher era apenas dona de casa ou esposa de. O termo, então, teria sido criado para dizer que a mulher do presidente passou a atuar na política como primeira dama, interagindo com a população através das obras assistenciais do governo. Nos países de língua portuguesa, o termo sempre indicou apenas isto: a esposa do presidente.
Já que o termo não é próprio de diferenciação de gêneros, posto que presidente é uma palavra comum aos dois, muitas pessoas recorreram aos dicionários, só pra ter certeza.
No Houaiss, “presidenta” é a forma feminina de “presidente”; já o Aurélio, diz que a palavra pode ser usada no masculino e feminino, e também acata o uso de “presidenta”, que por sua vez é definida como “esposa do presidente” ou “mulher que preside”.
Fato é que, a exemplo da dama da Casa Rosada, Dilma quer ser chamada de Presidenta, ressaltando a importância de ter se tornado a primeira mulher na presidência do Brasil.
Um feito importantíssimo para nós, que sempre lutamos pelas igualdades.
E foi com discursos positivos e animadores que Dilma, a primeira Presidenta do Brasil, comemorou sua vitória nas urnas. E é com o respeito que devemos a qualquer dirigente de país, nos posicionamos com corações esperançosos e mente aguçada e atenta, desejando mesmo que esta governança fuja à qualquer perspectiva assustadora e resulte num crescimento efetivo das possibilidades do povo brasileiro, respeitando-lhe suas individualidades e direitos de expressão, qualidade de vida e opinião.
Estejamos atentos e vigilantes, portanto, para que andemos na rampa da lucidez, e não na prancha do abismo. Para tanto, precisamos nos munir de madureza espiritual e equilíbrio emocional; caso contrário. não passaremos de cegos guiando cegos ou sendo por eles guiados.
É importante que tenhamos nossas certezas calcadas na luz do discernimento, e não nas trevas da paixão. Tenhamos, pois, a razão, a observação e os preceitos de Jesus como lume guiando nossos passos e escolhas.
Pois que Jesus disse: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!" (Apocalipse, 3:15).
E disse ainda: "Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." (Mateus, 5:37-48).
Nestas palavras, Jesus esclarece uma conduta política que está acima do que sempre praticamos na Terra. porque estamos acostumadoa a transferir nossas responsabilidade para outrem, por conta de seus títulos e encargos. porém, é de nossa responsabilidade própria a construção da nossa evolução e d a nossa realização pessoal.
Assim, respeitemos a todos os governantes: àqueles com os quais afinizamos, àqueles de quem duvidamos e àqueles dos quais desconfiamos. Andemos com eles proximamente, para cuidar se o que fazem são de coerência com o que prometem e, principalmente, para que, na falha deles, possamos nós mesmos nos adiantarmos e darmos nossa colaboração positiva no sentido de ajudarmos a construir um mundo melhor.
É tolo aquele que se deixa cegar pela paixão, pois alguém emprestará de si os seus ideais e fará deles o que bem quiser, e isto poderá se revelar contrário, na forma, do que você desejou de fato; e nada poderá ser dito ou feito depois. Lembremo-nos de que não é a fala, mas a ação que define o estado e o rumo das coisas.
Então, que nossas ações, antes de todas, andem em comunhão com nossos anseios e que, por isto e pelo bem da humanidade, que possamos lutar pacificamente pela construção de um mundo melhor.

domingo, 17 de outubro de 2010

Mamãe! Votar em quê?

Quando a questão é votar em que e não em quem, é sinal de que estamos muito mal servidos de candidatos. Afinal, quem é que pode representar o povo na presidência do Brasil?

Vergonhosamente, a campanha final para as eleições presidenciais de 2010 se transformou em palco para uma batalha inglória da qual o povo sai perdendo mais. A onda do eu fiz isto, o outro lado fez aquilo, parece mais um teatro armado para distrair a nossa atenção, impedindo-nos de ver que, de fato, faltam propostas sérias para o nosso futuro.
Ambos os candidatos querem fazer o país continuar avançando. Porém, muitas vezes, avançar significa atirar-se no abismo da inconsequência. E eu, realmente, não sei dizer para onde cada um pode mesmo levar nossa nação.
O Lula, sem dúvida, é um ícone nacional. Sua diplomacia, forjada nas máquinas de fundição sindical, deu-lhe o carisma necessário para conquistar a massa e dois mandatos seguidos. Caso tivesse sido barrado antes do segundo mandato, o país teria ficado numa situação insustentável, já que ele tirou os quatro primeiros anos para viajar para o exterior, negociando com os poderes do mundo o que FHC planejou, mas não realizou. Pagou a dívida externa com o dinheiro da segurança e da saúde nacionais, usando o “bolsa família” para barganhar votos com a massa.
Os investimentos com marketing, que constituíram prioridade em todo o primeiro mandato de Lula, mais uma vez surtiram efeito positivo para o governo, que se reelegeu.
O plano “fome zero” que elegeu Lula pela primeira vez, não se cumpriu; mas ele se deu por satisfeito com o pouco que fez e lançou o PAC, que também não se cumpriu. Como disse Marina em sua campanha de eleição no primeiro turno, “o PAC não é um planejamento, mas um acúmulo de projetos”; e o governo não conseguiu concretizar nem 50% dos objetivos da primeira versão do programa.
Apesar de o próprio presidente Lula reconhecer esta marca, o governo anunciou, em julho deste ano, o PAC 2, para iludir o povo de que o país está “avançando”.
O mesmo mote de campanha, que nada mais é do que o velho modelo “pão e circo” romano, conquista, para o segundo e derradeiro turno, as camadas mais pobres, O problema é que esta grande fatia da sociedade não se preocupa com a ameaça da volta à censura na imprensa ou se as áreas verdes serão mais e mais devastadas para sustentar um plano incabível de reforma agrária a que deram o nome de “Código Florestal”. Basta que lhe garantam a “bolsa família” e, se for possível, um pouco mais de saúde, setor tão desprezado até então pelo governo Lula.
A saúde, que sempre foi a marca principal do Serra, na campanha deste candidato aparece em alta, e é reforçada pelo pequeno aumento no salário mínimo e inclusão do 13º no “bolsa família”. Como Marina e PV não se posicionaram a favor de nenhum dos dois, Serra se apropria da imagem da bandeira verde para falar de meio ambiente, mas nada tão sério que garanta projetos sustentáveis.
Serra é o candidato da moderação. É comedido em tudo o que faz e não tem a ousadia de um Lula. O aumento do índice percentual de intenções de voto para Serra fez com que a bolsa de valores subisse, o que denota que os empresários preferem apoiar uma economia mais estável, que é o que se consegue com Serra. Mas, até onde se pode confiar nessa estabilidade com Serra na presidência e uma maioria petista no senado e na câmara?
Notadamente, nosso problema não é em quem votar, mas em quê.
Da minha parte, creio que o Brasil precisa de alguém no poder com idoneidade, lucidez frente às necessidades sociais, ambientais e econômicas e com iniciativa própria, sabendo o que faz. Por isso meu voto no primeiro turno foi para Marina Silva.
Alguém como Marina, que aprendeu sozinha e resistiu ao ninho petista sem vender a própria alma, tem ao mesmo tempo a ousadia necessária para fazer o país avançar e a prudência para lidar com esse avanço de maneira segura e positiva, pensando não só no agora, mas também no porvir.
Porém, nós perdemos a chance de eleger Marina nesta eleição. Então, votaremos em quê? No PT, que seguramente fará de Dilma sua marionete para assumir declaradamente o poder e avançar, sim, mas com sua estratégia ditatorial, ou no PSDB e suas coligações, que puxam de volta o estado morno que coloca o país sempre no tempo futuro?
Pessoalmente, não sei o que fazer. Como o principal, que é a educação, ficou de lado tanto do lado de Dilma quanto do lado de Serra, que apresentaram propostas sem expressão e muito mal elaboradas, meu coração diz “anule” e confie apenas no povo, com sua capacidade de discernir o que é bom e o que é perigoso.
Se der Dilma, que estejamos preparados para clamarmos pelo impeachment na primeira punhalada em nome da ditadura e da censura. E, se der Serra, que estejamos preparados para cobrarmos algo a mais do que ele promete, sobretudo, nos quesitos educação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente.
No mais, desejo a todos um excelente dia de votação.

Lúcia Roberta Mello

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cara a cara com os dragões

Mitos, lendas e muita imaginação são os componentes mais frequentes na hora de rechear a torta das verdades que buscamos. Cada um usa o recheio que quer, mas a massa podre da torta é feita com fragmentos da memória que trazemos de tempos longínquos, muitos anteriores a Terra, e alguns poucos anteriores a este Universo.
Dizem que um bom prato depende da mão do cozinheiro; eu digo que quem faz a fama de um cozinheiro é o paladar de quem degusta. E quem se dispõe a provar verdades deve estar disposto a gostar do amargo. Porque, nesta humanidade, as pessoas encontram doce nas ilusões que acomodam o ego na zona pessoal de conforto, deixando o amargo para as verdades libertadoras da alma.
Este é um assunto muito profundo e sério, por isso o inicio com analogias. Trata-se, todavia, do encontro com a nossa própria verdade cósmico-espiritual.
Quando crianças, sofremos o aprendizado de que doces são prêmios de consolação, de aprovação e de comemoração pelo afeto trocado com nossos pais e tutores; e aprendemos que o amargo é o remédio para prevenir dos males ou curar nossas doenças. E porque preferimos aos doces, tornamo-nos mimados e caprichosos, barganhando os nossos favores em troca do que mais nos apetece. Depois de um tempo, amargo mesmo, só em situações extremas.
Na vida espiritual fazemos o mesmo. Vivemos num mundo de doces ilusões, barganhamos nossos potenciais por facilidades e visamos atender mais aos desejos do ego que aos do espírito. Rejeitamos, por outro lado, o trabalho do melhoramento íntimo, o mergulho na profundeza da nossa alma, onde reside a memória do espírito que somos, cuja verdade nos parece amarga.
Isto resolveu nossos problemas durante algum tempo, mas agora a maturidade espiritual recai sobre nossos ombros e não há mais como tapar os olhos para a realidade. Insistente e amorosamente, ela bate à porta da nossa geração gritando que não vai embora enquanto não conseguir entrar em nossas consciências.
Adultos vão ao amargo por conhecerem o bem que o amargo leva à preservação da saúde, Assim é com os espíritos maduros: vão à verdade porque sabem que, ainda que amarga para o ego, ela é doce quando revela o divino em nós.
Desvendar os mistérios da alma é passar pelo vale amargo das verdades do nosso passado no mal para reencontrar o néctar divino da centelha sagrada que habita em todos nós: nosso eu superior.
O problema do ser humano, como bem diz Robson Pinheiro em seu livro “Legião – Um olhar sobre o reino das sombras", é que todo mundo quer ser apenas luz, negando a sombra que existe dentro de si.
Jesus disse: “Vinde a mim as criancinhas”, e não vinde a mim os espíritos infantis apegados a seus caprichos. Conquanto, ele falou e agiu pelos doentes, e não pelos sãos.
A modernidade que descende do século 20 veio preparando a humanidade para entrar em contato com a própria sombra de uma maneira suportável. Com a onda de autoajuda que assolou o ocidente, muitas ferramentas brotaram no mundo esotérico: os florais, o Jogo da Transformação, a popularização do Maha Lila, do I Ching e do Tarô de autoconhecimento, o Reiki e seus derivados, o Renascimento (técnica terapêutica de respiração) a Cinesiologia Terapêutica, o RPG e muitas outras.
Do Jogo da Transformação, que foi desenvolvido pela Findhorn Foundation, uma comunidade de pessoas com experiências e partilhas voltadas para a vida holística, construída em sistema sustentável de ecovila (uma das primeiras ecovilas do mundo), é um jogo cuidadosamente criado para imitar a experiência da reencarnação e identificar o modo próprio que a pessoa utiliza para caminhar por essa trilha nos níveis físico, emocional, mental e espiritual.
Inspirada no jogo, Sônia Café, que é uma das focalizadoras do jogo, escreveu livros como “Meditando com os Anjos” e o “Livro das Atitudes”.
Formada em Letras, Sônia Café atuou como consultora editorial da Editora Pensamento-Cultrix durante 20 anos. Hoje é pesquisadora da empresa Amana-Key para assuntos ligados ao desenvolvimento da consciência humana. No início dos anos 80 participou da criação da Uniluz, centro de vida espiritual e educação holística localizado em Nazaré Paulista, hoje transformado em Universidade da Luz, onde continua atuando como associada e conselheira.
Foi nesta comunidade de Nazaré Paulista que eu a conheci e tive contato com o seu livro “Transformando Dragões”, onde Sônia relaciona 64 dragões muito graciosos que mostram os padrões negativos com que atuam em nosso comportamento, e a forma de transformá-los, pela alquimia interior, em padrões positivos.
Foi desde então que eu percebi que a estratégia da luz de inspirar ferramentas de transformação real estava em andamento na Terra. E pela primeira vez de uma forma popular ou que se poderia popularizar, ousava mostrar que é possível transformar o íntimo rapidamente, derrubando a perspectiva de distanciamento infinito entre nossa personalidade e nosso deus interior que até então formava a visão geral dos interessados em melhoramento pessoal.
O movimento esotérico, apesar de muitas vezes representar uma maquiagem para os falsos neófitos do bem, serviu e serve para trazer à mente humana encarnada a ideia de que é possível, a qualquer um de nós, acender a luz da alma, reintegrar-se a Deus e vencer o mal que fora implantado em nossos padrões há muito tempo.
Os dragões de Sônia Café deram forma às mudanças que fizemos em nós desde os tempos em que o mal foi disseminado na raça humana terrena, mostrando-nos claramente como agimos em comunhão com tais influências, ao mesmo tempo em que nos revela seu oposto positivo, tornando-o acessível.
Tudo isso foi e é muito bom, mas está inserido apenas no contexto psíquico dos seres humanos terrenos. E, especialmente os dragões, não poderiam ser vistos apenas pela imagem reflexa de um psiquismo corrompido. Teríamos, mais cedo ou mais tarde, de enfrentá-los cara a cara, não apenas dentro de nós, mas em seu berço; e, se não pessoalmente, através da revelação do que está por trás das cortinas que separam a consciência encarnada da realidade espiritual.
Quem finalmente descortina para o mundo essa realidade é Robson Pinheiro, através da trilogia O Reino das Sombras, uma obra tratada com rara seriedade o lado obscuro desta humanidade, e que deve ser lida e estudada por todo aquele que se diz espírita ou todo aquele interessado na vida espiritual, pelo menos.
Se o esoterismo revelou as faces psíquicas do mal em nós, o trabalho de Robson Pinheiro revela onde e como esse mal reinou aqui na Terra e onde e como seus representantes atuaram e, infelizmente, ainda atuam.
É prudente, todavia, que os munamos de cautela ao tentarmos compreender a matéria e fugirmos do determinismo característico do modo dedutivo daqueles que possuem pouco conhecimento.
Os “dragões do mal”, como Robson Pinheiro denomina os seres vinculados à causa maligna oriunda do processo conhecido na Terra como Rebelião de Lúcifer, não representam toda a espécie de extraterrestres que se vitimaram com o distúrbio vibratório que marcou a rebelião luciferiana, de modo que nem todo exilado de Capella que veio para a Terra é um dragão do mal ou um draconiano.
Também é lícito dizer que nem todo aquele que sobreviveu no mal às ações de resgate da luz é oriundo de uma mesma raça cósmica.
Estes são assuntos muito mais amplos e profundos do que o que nos é permitido tratar com esses estudos, de modo que devemos, outrossim, beber de muitas fontes e aguardar o tempo do entendimento real destas coisas.
Que sejam, pois, estudados, estes temas, mas jamais tomados como guia para nossas vidas, a não ser no aspecto de investirmos sempre e continuadamente, com a maturidade alcançada, em nosso melhoramento íntimo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ANJOS DECAÍDOS

"Existem verdades que ainda não encontraram seu tempo para serem devidamente percebidas, delas restando somente vislumbres, para os que vivem na Terra".

Dessas verdades, surge o importante livro de Jeane Miranda de Sousa, cuja leitura recomendamos.

Consulte e baice gratuitamente no endereço abaixo:

http://www.facebook.com/l/0017f;www.orbum.org/2010/08/livro-anjos-decaidos/

Jesus ou Barrabás?

A escolha por Barrabás no lugar de Jesus há dois mil anos reflete nossa tendência a exercer uma política de respostas imediatas que sustenta dominadores e dominados, em detrimento da política de amor incondicional exemplificada por Jesus.


Há cerca de dois mil anos, o povo judeu foi interpelado pelo império romano para saber qual dos prisioneiros seria libertado no dia da Páscoa dos judeus: Jesus ou Barrabás. Passados estes dois milênios, ressona em nossos espíritos o mesmo senso político de dualidade. O que isto quer dizer?
Barrabás é o nome que damos para Bar-abbâ, Bar Abbas ou Bar Aba (o filho do pai, por tradução do aramaico). Ele foi um revolucionário revoltado contra o jugo judeu ao império romano, que praticava impostos exorbitantes e desmedidos, que recebiam sem escrúpulo, muitas vezes tirando até mesmo o instrumento de trabalho dos devedores.

No caso de Barrabás, que era originário da cidade de Jopa, ele possuía um bote com o qual exercia a profissão de remador, e este lhe fora confiscado pelos romanos diversas vezes, por recusar-se a pagar tão altas taxas de impostos.

Forte, extrovertido e bruto, Barrabás tornou-se uma espécie de líder rebelde de um grupo de zelotes (zelotes eram membros de um partido judeu do tempo de Cristo, que se opunha à dominação romana, mas também era incompatível com a soberania do Deus de Israel) dos mais violentos.

Barrabás dedicou-se, assim, a roubar e saquear de quem quer que fosse, mas, com especial apreço, aos cobradores de impostos. Arrebanhou diversos seguidores à sua volta e, um dia, seguiu incógnito para Jerusalém, onde foi finalmente preso.

Jesus, que viveu à mesma época e situação geopolítica que Barrabás, a seu modo, também foi um revolucionário agitador que arrebanhava em torno de si diversos seguidores; e estes, tal como os seguidores de Barrabás, também viviam revoltados com a situação política que imperava na extensão de terras de domínio romano.

Ao contrário de Barrabás, porém, Jesus jamais empunhou uma espada ou proferiu palavra alguma de condenação, revolta ou ira contra quem quer que fosse. Quando muito, deixou transparecer sua indignação com os vendilhões do templo, aos quais expulsou de lá como forma de condenação ao comércio das coisas santas. Fora isto, sua ação foi sempre pacífica e sua fala de verdade e consciência. Não se opunha ao império, mas pregava uma linha de conduta naturalmente oposta à praticada por Roma.

Assim, aos olhos do governo local da época, ambos feriam o status político romano, cujas estratégias eram criadas com vistas à dominação e conquista expansiva de territórios.

A realidade política que sustenta as hordas de dominadores e dominados em lados opostos de uma mesma gangorra social não é exclusividade da época do império romano. Em geral, os governos ainda se distanciam da máxima governamental de zelar pelo seu povo e, ao contrário disto, subjugam-no educando-o e mantendo-o a serviço de seus próprios fins, não importam quais sejam estes.

Os lados que se contrapõem ao governo costumam se exaltar e criar muito mais balbúrdia e desordem; isto quando não empunham espadas que ameaçam o tempo todo qualquer tentativa de se criar estabilidade e concórdia.

A proposta política de Jesus não compactuava nem compactua com a violência ou com a imposição de nenhum dos dois lados, ou seja, nem por parte do governo, nem por parte do povo a ele submetido. Jesus trouxe para o mundo uma concepção política de melhoramento íntimo e pessoal, onde ninguém espera nada do outro, mas dá tudo de si para o bem comum.

Alguns representantes políticos têm atestado estarem trabalhando pelo exercício político cristão, porém, confundindo o sentido cristão com os ditames católicos impostos por uma igreja de berço romano, que sempre agiu e imprecou conforme sua própria sede de poder e dominação.

Pelo visto, a ânsia de dominar tornou-se inerente ao ser humano e marcou o Estado de Roma e sua descendência com especial atenção, dando-lhe ênfase histórica.

Os séculos passaram buscando uma adaptação. De lá para cá, a Igreja tomou o Cristianismo para si desvirtuando-lhe o berço das intenções jesuíticas. Adaptou, com seus cânones, as ideias pacíficas difundidas por Jesus ao caráter tendente à submissão de seu povo; ditou normas de conduta e, finalmente, em 1518, criou o "Livro das Taxas da Sagrada Chancelaria e da Sagrada Penitenciaria Apostólica", onde de um lado estava o preço a se pagar por cada pecado cometido e, de outro, o pecado ao qual se referia.

Como tudo o que mexe com o bolso do ser humano tende a definir sua predileção, mais uma vez o povo se revoltou e, da revolta, surgiu o Protestantismo.

Cheios de boas intenções, mas intimamente maculados pelo instinto selvagem de Barrabás, os protestantes de então fincaram pé em terras norte-americanas; e lá, não fizeram outra coisa senão exercerem suas tendências de dominação herdadas da mesma Roma que pretenderam combater, fazendo dos Estados Unidos da América um país de despotismo, lutas imorais e domínio econômico destrutivo.

Nossa consciência política aqui no Brasil, coisa da qual nos vangloriamos todo dia e, sobretudo, neste instante eleitoral em nosso país, não se difere em nada dos povos que a história registrou. Estamos, outrossim, igualmente reduzidos ao que os nossos bolsos ditam: se nos proporcionam maiores rendas, ganham nossos votos; se nos tiram o que era para nosso sustento ou deleite, ganham nossa oposição.

Quem, afinal, pode se dizer ao lado de Jesus ou ser um eleitor verdadeiramente cristão? Quem é dotado de tamanha ousadia amorosa que pode se fazer e se realizar através da própria doação, sem contestar ou agredir ao governo, mas, ao contrário, respeitando seus intentos e limites, porém, não se submetendo às atrocidades que aquele comete contra o povo, mostrando-se não submisso, imparcial ou alheio, mas atuante no bem, vigilante na verdade e pleno no amor?

E se também não há algum político cristão habilitado em dar a seu povo sem nada desejar em troca, e interessado em promover a sublimação do seu povo através da educação filosófica, da prática do amor fraternal e das leis maiores, de quem deve ser o primeiro passo senão de nós mesmos, eleitores e cidadãos, ainda que, partindo de uma mera reflexão?

Na verdade, o que está em discussão não é o fato de sermos verdadeiramente cristãos, mas o fato de sermos verdadeiramente livres, amorosos e sábios, como Jesus o foi.

Nossa situação planetária revela o quanto estivemos agindo de maneira inadequada e egoísta até aqui. Porém, continuamos a agir como crianças mimadas que pedem, exigem e batem o pé quando não ganham o que querem.

Em pior situação, somos como zelotes, preferindo a revolta, o saque e a violência como resposta ao nos cobram para viver ou sobreviver.

Não somos como Jesus, isto está óbvio. Porém, não tentarmos ser como ele está piorando os problemas do mundo. E isto não é uma questão religiosa, mas sim, uma questão política da mais séria.

Nosso dever, portanto, como cidadãos e eleitores, é o de respeitar os governantes, acatar as leis dos homens, mas, de modo pacífico, imperioso e constante, praticarmos o que for possível pela sobrevivência desta casa planetária. Esta é a mudança que devemos operar em nosso próprio comportamento e em nosso íntimo, dependendo disto o nosso futuro da nossa humanidade.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A Iniciação de Malik Dinar

Depois de muitos anos de estudo sobre temas filosóficos, Malik Dinar achou que chegara o momento de viajar em busca de conhecimento.
– Irei à procura do Mestre Oculto, de quem é dito também achar-se na parte mais profunda de meu ser – disse ele para si mesmo.
Saíra de sua casa levando como alimento apenas algumas tâmaras, quando se encontrou com um dervixe que caminhava com certo esforço pela estrada empoeirada. Malik se pôs a caminhar junto a ele em silêncio. Finalmente, o dervixe perguntou:
– Quem é você e para onde se dirige?
– Eu sou Dinar, e inicio a viagem em busca do Mestre Oculto.
– Eu sou El-Malik El-Fatih, e seguirei com você – disse o dervixe.
– Poderá ajudar-me a encontrar meu mestre? – indagou Dinar.
– Posso ajudá-lo; e pode você ajudar-me? – perguntou Fatih no estilo meio irritante, próprio dos dervixes. – O Mestre Oculto, segundo dizem, reside no próprio ser do homem. A maneira de encontrá-lo depende do uso que se faça da experiência. E isto é algo que só é transmitido parcialmente por um companheiro.
Pouco tempo depois, chegaram ao pé de uma árvore que estava balançando e se inclinando. O dervixe parou e disse após alguns instantes:
– Esta árvore está dizendo: "Alguma coisa me incomoda, parem e tirem de meu flanco a causa desse incômodo, a fim de que eu possa repousar".
– Estou com certa pressa – retrucou Dinar. – E, além disso, como pode uma árvore falar? – E seguiram seu caminho.
Algumas milhas adiante, o dervixe disse:
– Quando estávamos perto da árvore, julguei ter sentido cheiro de mel. Talvez haja algum ninho de abelhas no interior da árvore.
– Sim, deve ser isso – disse Dinar. – Voltemos lá depressa, assim poderemos recolher o mel para nos alimentarmos com uma parte dele e vender a outra para nos mantermos durante a viagem.
– Como queira – disse o dervixe.
– Quando se acercaram novamente da árvore, viram que outros viajantes já tinham se antecipado, recolhendo uma grande quantidade de mel.
– Que sorte a nossa! – diziam aqueles homens. – Aqui há mel suficiente para alimentar todo um povoado. Nós, pobres peregrinos, poderemos agora converter-nos em mercadores. Sim, nosso futuro está garantido.
Dinar e Fatih seguiram seu caminho.
Pouco tempo depois, alcançaram o sopé de uma montanha, onde ouviram um zumbido. O dervixe encostou o ouvido no solo e então disse:
– Debaixo de nós há milhões de formigas construindo uma colônia. Este zumbido é um pedido coletivo de ajuda. Na linguagem das formigas, quer dizer: – Ajudem-nos, ajudem-nos. Estamos escavando, mas esbarramos em pedras estranhas que impedem nosso avanço. Ajudem-nos a tirá-las do caminho! – Devemos parar e ajudá-las ou prefere seguir em frente? – indagou o mestre dervixe.
– Formigas e rochas não são assunto nosso, irmão – disse Dinar. – Pois eu, de minha parte, estou à procura de meu mestre.
– Está bem, irmão – falou o dervixe –, embora digam que todas as coisas se acham relacionadas, e isto poderia ter uma certa conotação conosco.
Dinar não prestou a devida atenção ao que o velho murmurava, e assim foi que seguiram adiante.
Fizeram uma parada ao anoitecer, e aí Dinar deu por falta de ser canivete.
– Devo tê-lo deixado cair perto daquele formigueiro. Amanhã voltaremos lá. Na manhã seguinte, ao chegarem novamente ao lugar do formigueiro, não encontraram nem sinal do canivete de Dinar. Em troca, viram um grupo de pessoas cobertas de barro, descansando junto a uma pilha de moedas de ouro.
– Fazem parte de um tesouro escondido que acabamos de desenterrar – explicaram aquelas pessoas. – Seguíamos pela estrada quando um velho e frágil dervixe nos disse: “Cavem neste lugar e encontrarão aquilo que para uns é simples rocha e para outros, ouro”.
Dinar lamentou sua má sorte e observou:
– Se tivéssemos parado um pouco aqui ontem, você e eu estaríamos ricos agora, ó dervixe.
– Forasteiro, o dervixe que o acompanha se parece bastante com o que vimos ontem à noite – disseram os que haviam achado o tesouro.
– Todos os dervixes se parecem muito – disse Fatih. E retomaram seu caminho.
Dinar e Fatih prosseguiram viagem, chegando alguns dias depois às margens de um belo rio. O dervixe parou e, enquanto esperavam sentados a chegada de uma balsa, um peixe pulou fora d'água várias vezes, sempre perto dos dois viajantes.
– Este peixe nos envia uma mensagem – disse o dervixe. – Ele diz: – Engoli uma pedra que me sufoca. Segurem-me e me deem certa erva para comer, assim poderei vomitar a pedra e me sentir aliviado. Caminhantes, tenham piedade!
Nesse instante a balsa chegou, e Dinar, sempre impaciente para seguir viagem, empurrou o dervixe para dentro da embarcação. O barqueiro mostrou-se agradecido pela moeda que deram e Fatih e Dinar dormiram bem naquela noite, na margem oposta, numa casa de chá para viajantes que fora construída por alguma alma caridosa.
Na manhã seguinte, estavam tomando chá quando apareceu o barqueiro. Segundo ele, a noite passada fora muito afortunada. Os peregrinos lhe haviam trazido sorte. Beijou as mãos do venerável dervixe, para receber sua benção.
– Você bem o merece, meu filho – disse Fatih.
O barqueiro agora era um homem rico. Explicou aos dois homens o que realmente lhe acontecera. Já se dispunha a voltar para casa quando vira o dervixe e seu companheiro sentados à margem do rio, aí resolveu fazer mais uma viagem, ainda que eles parecessem pobres, a fim de obter a "baraka", isto é, a benção pela ajuda prestada a um viajante. Mais tarde, de retorno à outra margem, viu um peixe que parecia muito aflito. Estava junto à margem do rio e tentava engolir algo. Aí o barqueiro pôs uma erva com cuidado na boca do peixe. Este vomitou uma pedrinha e voltou à água. Pois bem, a tal pedra era um grande e perfeito diamante de incalculável valor e brilho.
– Você é um velho demônio! – gritou Dinar, furioso, ao dervixe Fatih. – Estava a par dos três tesouros graças a alguma percepção oculta, e no entanto nada me revelou nas três ocasiões apropriadas. Isto é que é o verdadeiro companheirismo? Antes, a minha má sorte era muita, mas sem você jamais teria conhecido as possibilidades ocultas em troncos de árvores, formigueiros e peixes!
Mal dissera tais palavras, sentiu como se um forte vento lhe sacudisse o íntimo. Então, compreendeu que acabara de dizer o reverso da verdade. O dervixe, cujo nome significa Rei Vitorioso, tocou suavemente o ombro de Dinar, sorriu e disse:
– Agora, irmão, descobrirá que pode aprender com a experiência. Eu sou aquele que se acha a serviço do Mestre Oculto.
Quando Dinar se atreveu a erguer a vista, viu seu mestre afastando-se pela rua com um pequeno grupo de viajantes que discutiam sobre os riscos da longa jornada que os esperava.
Hoje, o nome de Malik Dinar figura entre os principais dervixes, companheiro e modelo, o Homem que Chegou.
Malik Dinar foi um dos primeiros mestres clássicos. O Rei Vitorioso desta história é uma encarnação das “funções superiores da mente” as que Rumi denominava "O Espírito Humano", que o homem deve cultivar antes que possa operar de uma maneira iluminada.
A presente versão é creditada ao Emir el-Arifin.
Extraído de'Histórias dos Dervixes'Idries ShahNova Fronteira 1976

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Reflexões sobre o esporte

O que mais une pessoas no mundo é o esporte, e cada país tem suas predileções, conforme a cultura e as condições climáticas e geográficas do lugar. No Brasil, os esportes mais populares são o futebol, o basquete, o vôlei, o automobilismo, a natação e o tênis, de uma maneira geral. Mais recentemente, os esportes ditos radicais também têm ocupado lugar de destaque na nação, o que tem levado mais e mais pessoas aos campeonatos.

Talvez pela difusão cada vez mais constante, o esporte por si tem atraído mais o interesse do público brasileiro, que aos poucos vai elegendo seus ídolos não mais por serem brasileiros, mas por serem melhores no que fazem. Esta característica já marca de há muito o comportamento de alguns países como o Japão, por exemplo, mas estamos cada vez mais adeptos disto.

Isso não quer dizer que as pessoas não torçam mais pelo nosso país; ao contrário, todos querem ver mais vezes o Brasil no topo do pódio, qualquer que seja o esporte que ele represente. A questão é que o olhar do público vem se voltando mais para a performance, o que aumenta o nível de exigência. Por outro lado, o brasileiro também tem se destacado mais em maior número de esportes.

O judô, por exemplo, era um esporte sem muita atração para o público até Aurélio Miguel, em toda sua juventude e vigor, tornar-se campeão do mundo nas Olimpíadas de Seul, em 1988. O mesmo se deu com a ginástica olímpica masculina, que ganhou maior audiência com sucesso repentino do fenomenal Diego Hypólito, irmão da já consagrada Daniele.

O salto à distância, que levou o nosso João do Pulo à imortalidade, prestou o mesmo serviço a Maurren Maggi, que lutou contra inúmeras barreiras pessoais e, com o apoio do marido, da família e de sua equipe, deu ao mundo um exemplo de superação e conquistou o ouro olímpico de Pequim, em 2008.

O tênis, que em nosso país sempre foi elitizado, através do sucesso esplendoroso de Gustavo Kuerten, tornou-se mais popular e atraiu muitos jovens que se interessaram por aprender o esporte. Infelizmente, Guga sofreu contusões que o obrigaram a parar e o tênis voltou a ocupar a lista de retaguarda dos esportes mais populares do Brasil.

A glória de 2008 também recaiu sobre os ombros de Cesar Cielo, que conquistou o ouro nos cinquenta metros livre, tornando-se o herói nacional, já que foi a primeira vez que o Brasil traz o ouro das piscinas para casa. Antes de Cielo, as principais glórias nas piscinas olímpicas eram de prata, duas com Gustavo Borges (100 m livre em Barcelona-1992 e 200 m livre em Atlanta-1996) e uma com Ricardo Prado (400 m medley em Los Angeles-1984).

Se nos voltarmos para o passado, nós nos lembraremos do espetacular Éder Jofre, que conduziu com especial hombridade sua carreira no pugilismo. Sagrou-se campeão no ringue, colocando por muito tempo o esporte em destaque nas telas de televisão; e na vida, com sua conduta generosa, lúcida e exemplar, mostrando uma suavidade nunca antes imaginada para alguém que ganha a vida dando socos em outrem.

O surgimento de heróis repentinos é o que populariza um ou outro esporte por algum tempo. E, para isto, não é necessário que o ícone em questão seja um brasileiro. Ao mesmo tempo em que Cielo atingia sua marca máxima, Michael Phelps também se tornava um herói, recebendo o título de maior atleta olímpico de todos os tempos. Ele ganhou nada mais, nada menos, que oito medalhas de ouro em uma única Olimpíada. O Brasil e o mundo não podiam fechar os olhos para este grande feito.

Também em Pequim, o mundo parou para ver outra estrela brilhar. Era o jamaicano Usain Bolt, que então foi considerado por importantes analistas esportivos como o maior velocista de todos os tempos. Além de campeão olímpico, Bolt também é campeão mundial, além de deter os recordes mundiais nos 100 e 200 metros rasos, bem como no revezamento 4X100 metros.

Além desses recordes, que foram quebrados nas Olimpíadas de Pequim, em maio de 2009, Bolt também quebrou o recorde dos 150 m rasos, em Manchester, fechando o circuito no tempo de 14s35. Na ocasião, ele disse que seu objetivo era tornar-se uma lenda, e que estava trabalhando duro para isto. Mais tarde, em agosto do mesmo ano, o atleta quebrou seu próprio recorde nos 200 m quando fez a corrida em apenas 19.19 segundos, e só então se sentiu consagrado.

O maior veículo de consagração nas maratonas brasileiras tem sido a São Silvestre, prova de caráter turístico-esportivo disputada no último dia de cada ano, em São Paulo. E, embora tenhamos excelentes competidores em nosso país, como é o caso de Frank Caldeira, que ganhou a corrida em 2006, nesta prova, a supremacia africana tem sido inquestionável, notadamente, dos quenianos e etíopes.

E assim como o jamaicano conquistou o mundo nas pistas, o norte-americano nas piscinas e os africanos nas ruas, a cada geração surgem grupos de excelentes desportistas que se destacam, aqui e ali, e se tornam mundialmente amados e admirados, independente da sua nacionalidade.

O Brasil já produziu muitos desses ídolos mundiais, que foram e são consagrados, lembrados e homenageados no mundo todo até hoje. Pelé, sem dúvida, é um deles. Mas também Ronaldinho, o Fenômeno, e Kaká, mais recentemente. Isto, no futebol, porque, imbatível no quesito admiração mundial, é mesmo o nosso saudoso Ayrton Senna, que glorificou não só as pistas do automobilismo mundial, como também a própria vida, dando exemplos invejáveis de cidadania e amor ao próximo.

É de se admirar que, com tantas benesses que o esporte em geral tem feito no mundo no sentido de nos tornarmos verdadeiramente cidadãos planetários, capazes de respeitarmos e admirarmos o outro por seus talentos e esforços pessoais, mesmo quando esses ídolos não pertencem à mesma nação que a nossa, países como a Coreia do Norte ainda não tenham se dado conta de que o esporte está além da competição e da fama.

Na última copa, realizada na África do Sul, a Coreia do Norte jogou contra o Brasil e chegou a fazer um gol, conseguindo o feliz resultado de 2 a 1 para o Brasil. Animado com o placar, o dirigente do país autorizou a transmissão ao vivo dos jogos para seu país. Foi aí que a Coreia do Norte perdeu vergonhosamente de 7 a 0 para Portugal e acabou sendo eliminada ainda na primeira fase. Para o país, a vergonha foi inadmissível e tanto os jogadores quanto o técnico foram seriamente punidos.

Também é de se admirar que haja um segmento religioso que impeça aos seus adeptos de se vincularem a qualquer atividade esportiva. Mas há. No mundo, sempre há quem tome a contramão da evolução. Pois, se existe algo no mundo capaz de confraternizar a humanidade e por tal coisa servir de berço para a cidadania planetária, de que forma isso poderia ser ruim?

O esporte tem servido de ponte entre as diversas realidades sociais, pois reúne em torno de si desde a classe menos favorecida até as autoridades renomadas e detentoras do poder econômico do país e do mundo. Não raro, tira jovens de comunidades carentes para elevá-los ao reino das altas cifras, mas procura dar suporte psicológico para tanto.

Se olharmos para o esporte com olhos de justiça e bondade, veremos que nele reside um poder inimaginável de transformar pessoas. Basta, para isto, que se continue a semear em seu seio regras que conduzam ao moral e aos bons costumes. Esta tarefa recai, sobretudo, nos ombros dos dirigentes de clubes e seus investidores, bem como no de seus respectivos patrocinadores.

Obviamente, o esporte não é a solução para as diferenças sociais; tampouco substitui os pilares tradicionais da ascensão socioeconômica que são, predominantemente, a família e a educação. Porém, é inegável que tem colaborado em muito para derrubar preconceitos e corrigir desvios de caráter. Vale a pena refletir sobre isto.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Projeto de lei causa nova polêmica

Comemoração de 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente é palco para novo projeto de lei de proteção.
Márcia Lopes, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, disse em 13 de julho deste ano que o governo encaminhará ao Legislativo um projeto de lei que proíbe agressões físicas mesmo das mais tenras, como beliscões e palmadas, a crianças e adolescentes. A declaração foi feita no seminário da Câmara em comemoração aos vinte anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quando a ministra também se opôs à redução da maioridade penal, que hoje ocorre aos 18 anos de idade.
A princípio, desde que se acredite que qualquer tipo de agressão prejudica a formação do caráter no menor, o projeto de lei parece necessário. Todavia, a polêmica se cria quando se olha para o panorama educacional em nosso país e se percebe que os próprios pais e educadores teriam de passar por um processo de reeducação para se adaptarem à lei.
A questão passa a ser mesmo esta: quem reeducaria esses pais e sobre que bases, se o adulto possui valores e costumes arraigados dos quais dificilmente se desvencilhará, senão por um processo íntimo de conscientização?
Ao longo das últimas décadas, percebo que muitos projetos de lei encaminhados ao Legislativo, apesar de bem-intencionados e calçados em problemas que não se resolvem e se agravam a cada dia, como a violência contra o menor, acabam assumindo caráter arbitrário, uma vez que invadem territórios delicados como este, que é cultural.
Ora, não se muda a cultura de um país senão pela educação, e toda crença é naturalmente protegida pela própria constituição psicológica humana que se defende de qualquer composição racional contrária a ela.
Mexer no sistema de crenças e valores de uma pessoa tem sido tarefa árdua para profissionais especializados e capacitados no assunto, e só funciona se a pessoa estiver aberta a mudanças, o que não ocorre com imposição de leis.
Mas não é só isso. Pergunto-me se uma lei assim tem chance de Sr validada. Lembremo-nos que a Câmara aprovou conclusivamente, em 2006, o projeto de lei 2654/03, que proíbe qualquer forma de castigo físico a crianças e adolescentes, eliminando a necessidade de outro projeto proibindo praticamente a mesma coisa. Porém, esta lei sofreu recurso para votação em plenário, e ainda hoje não voltou a ser discutida.
Justamente, por causarem polêmica e serem de difícil aplicação, leis assim não tendem a ser aprovadas ou, caso forem, não tendem a ser aceitas pela sociedade. É como se quisessem decidir à força da lei o que só se consegue no berço.
Melhor seria, portanto, desenvolver sistemas de educação mais eficientes, inserindo no programa matérias como a filosofia, que ensina o menor desde cedo a questionar a vida e descobrir seus valores mais excelsos, possibilitando a geração de padrões morais de comportamento favoráveis à cidadania, bem como um programa de reeducação de adultos, através do qual esses mesmos valores e padrões morais pudessem ser resgatados ou revistos.
Isto me parece se mais uma questão social que criminológica, afinal.
Por outro lado, ao serem levantadas propostas assim, percebemos o quanto a nossa sociedade clama por uma mudança geral de comportamento em nossa sociedade. Estamos sufocados com tanta violência, em especial, contra menores, indignados com o tratamento dado a crianças e adolescentes, e queremos que isso pare de vez. Mas, infelizmente, a mudança no ser humano, para ser efetiva, deve ocorrer de dentro para fora, e não o contrário, de modo que apenas a educação, a reeducação e a conscientização pode abrir espaço para leis como esta, proposta no dia 13 de julho.

domingo, 11 de julho de 2010

Mudança no Código Florestal Brasileiro é um retrocesso

No tempo em que se deveria endurecer ainda mais o coração contra o desmatamento e lidar com a destruição das matas e da natureza com punho de ferro, o Brasil dá um passo para trás e aprova um código de leis permissivas que condenam o meio ambiente.
Nos tempos em que mais o ser humano precisa se conscientizar e agir em defesa da natureza, mudanças extremamente questionáveis ocorrem no Código Florestal Brasileiro, que chegam mesmo a ameaçar florestas e ecossistemas nacionais, causando prejuízos a toda a população, atual e futura, do planeta.
Instituído em 1965, o Código Florestal é um dos mais importantes sistemas de leis de proteção ambiental do país, contendo pressupostos vitais na conservação de recursos naturais. As alterações no corpo do documento marcam um retrocesso histórico e colocam em risco a sobrevivência das espécies, matas e reservas florestais.
Igualmente a diversos golpes políticos que o passado registrou em nossa história, essas mudanças mais se parecem com uma manobra bem articulada para o beneficio imediatista, limitado e irresponsável de alguns, sobretudo, dos ruralistas que alegam precisar de mais chão para plantar e criar, dando, com isto, o alimento que o mundo deseja.
Não se pode dizer que não era necessária uma reforma no código; ao contrário, isto era evidente e vinha sendo discutido com recorrência até que se criou a Câmara Técnica Temporária no Conselho Nacional de Meio Ambiente, que passou a construir, desde abril de 1999, a modernização da legislação florestal, mediante consulta ampla e democrática.
Foi justamente esta postura democrática, para não voltar a dizer a consciência, que faltou no momento de se firmarem as alterações, já que se pendeu para um só lado: o dos ruralistas. Mesmo com os esforços para deter a articulação rápida entre as entidades civis ligadas a questões ambientais, o texto substitutivo que recebeu o nome de Projeto de Conversão tramitou em tempo recorde e chegou ao Congresso Nacional em apenas seis dias.
13 votos contra cinco foi o resultado da votação que aprovou o texto que, entre outros absurdos, anistia os desmatadores de reservas legais e áreas de preservação permanente, reduz a área legal da Reserva Legal no Cerrado de 50 para 20% e a da Amazônia de 80% para 50%. O percentual, no caso, respeitando-se esse limite, passará a ser definido pelos Estados que, sabemos, possuem interesses próprios.
O texto autoriza que áreas de reflorestamento de pinheiros ou eucaliptos, bem como as de plantio de eucalipto, manga, coco, limão e outras culturas, sejam consideradas reservas legais, passando a ocupar o status de vegetação nativa. Que grande coisa para os exploradores da terra que não sabem ou, simplesmente, desprezam o valor de uma mata virgem.
O novo código também permite que florestas nativas sejam convertidas em lavouras nas propriedades mais produtivas, sem qualquer necessidade de se obter licença das autoridades ambientais, e que haja exploração econômica de florestas e outras formas de vegetação nas áreas de preservação permanente (margens dos rios, lagos e reservatórios, áreas de encosta e topos de morros).
Admite, também, que as florestas de preservação permanente sejam usadas para realização de construções, abertura de estradas, canais de derivação de água, e ainda para atividades de mineração e garimpo. Uma vitória que agrada aos exploradores e decepcionam os ambientalistas e a própria humanidade, uma vez que corrobora com a pior prática de desmatamento e deterioração da natureza. Além disso, houve uma redução da preservação das matas ciliares à margem de cursos com menos de cinco metros de largura, de 30 para 15 metros.
Estabelece-se o período de cinco anos consecutivos sem derrubada de matas para atividades agropecuárias e consolidação das áreas já utilizadas. Determina, também, a regularização da situação de cerca de 90% dos produtores rurais, que estão hoje na ilegalidade. Já para quem desrespeitar a lei ambiental, rege a obrigatoriedade de recompor as áreas destruídas ou desmatadas, com o que o responsável estará sujeito a sanções cíveis e penais. Isto, claro, se houver eficácia na fiscalização.
O cidadão que suprimir a vegetação de forma ilícita (contando a partir de 2008) ficará proibido de receber novas autorizações de supressão de vegetação. Mas, como a derrubada a favor das culturas é lícita, os latifundiários colherão a rodo, enquanto o mundo perderá ainda mais suas defesas naturais, corrompendo talvez uma última chance que ainda se tem de reverter em parte os danos causados à natureza terrestre.
Não podemos nos esquecer de que o Brasil, por sua extensão e por abrigar a Amazônia, representa uma das maiores esperanças mundiais de sobrevivência ambiental, onde se incluem os fatores que visam conter o crescimento do aquecimento global ou as águas que, por consequência deste, aumentam de volume por conta do degelo e procuram mais e mais espaço para ocupar no mundo.
O ser humano tem sido imediatista, talvez por ter sido criado à imagem e semelhança de um deus que, a julgar pelo que se registrou no Antigo Testamento da Bíblia sagrada, assim também o é. Porém, estamos enfrentando uma ameaça de destruição causada por este jeito de ser. Por querer resolver apenas os problemas atuais sem se pensar no futuro é que estamos passando por tantas tragédias. Inundações, tsunamis, tufões.
Contra o imediatismo humano, ambientalistas do mundo inteiro defendem a aplicação do conceito de sustentabilidade, inclusive, no Brasil. Segundo o Relatório de Brundtland, de 1987, sustentabilidade é “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações fufutras de suprir as suas”.
Na Wikipédia da internet, está escrito que a “Sustentabilidade propõe-se a ser um meio de configurar a civilização e atividade humanas, de tal forma que a sociedade, os seus membros e as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir proeficiência na manutenção indefinida desses ideais”.
De maneira alguma se vê nem sustentabilidade nem conduta política ou ecologicmente correta no novo Código Florestal; tampouco preservação da biodiversidade ou dos ecossistemas naturais. Casos e mais casos de animais sem floresta que invadem o território urbano numa luta cruel e desvantajosa pela sobrevivência ocorrem em toda parte. Proliferação de pragas também são mais frequentes desde que o desmatamento atingiu as proporções da atualidade. Se permitirmos legalmente que se desmate mais, como poderemos reverter o desequilíbrio ecossistêmico?
“Condutas de políticas integradas para solucionar questões ambientais”, como a candidata à presidência da República, dona Marina Silva, defende em sua campanha, são viáveis desde que atendam às reais necessidades do meio, que não mais pode ser visto territorialmente, já que o que se faz aqui repercute do outro lado do planeta e vice-versa, demonstrando o caráter sinérgico da humanidade no dever de agir por ela mesma.
A candidata Marina, assim como muitos neste planeta, estão indignados com a aprovação na Câmara do novo Código Florestal. Segundo ela, a proposta apresentada revoga o primeiro artigo do código e faz com que as florestas deixem de ser um bem da humanidade. O artigo em questão diz que “As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo- se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”.
E, no parágrafo que se sucede, está que “As ações ou omissões contrárias às disposições deste Código na utilização e exploração das florestas e demais formas de vegetação são consideradas uso nocivo da propriedade, aplicando-se, para o caso, o procedimento sumário previsto no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil”.
Ou seja, o homem continua fazendo leis que revoga conforme seus interesses políticos, em detrimento das próprias raça e espécie e sem qualquer senso de responsabilidade global.
O novo código é polêmico, mas é mais que isso. Também é um chamado à população para que se levante com consciência contra a absurdez que homens de poder querem cometer contra o meio ambiente. É um chamado para que novas vozes se levantem antes mesmo do próximo plenário que discutirá a questão, e que deverá ocorrer apenas após as eleições brasileiras de 2010.
Portanto, é mister que nos preparemos com grande lucidez para irmos às urnas. Lembremo-nos de que nossas maiores armas para conseguir qualqur mudança são a nossa voz, a nossa pena e, no caso, o nosso voto.

terça-feira, 6 de julho de 2010

FESTA JULINA NA ILHA DO FUTURO



23 a 25 de Julho

só R$50,00 por pessoa!

IMPORTANTE:

  • A alimentação poderá ser toda compartilhada
  • A chegada à Ilha pode ser feita a partir de sexta à tarde (depois da 13h00) até no máximo 9h00 de sábado, quando estaremos reunindo os inscritos na Sala de Meditação e divulgando as atividades.
  • O valor da contribuição será 50 reais por pessoa para todo o evento.
  • Saída: Domingo no final da tarde.
  • Principais atividades sugeridas:
  1. Reunião e partilha no sábado dia 24 de Julho às 9:30 Hrs, seguida de passeio até cachoeira.
  2. Almoço comunitário com pratos trazidos pelos hóspedes (ovolactovegetarianos) no Recanto do Sabor às 13h00. Não obrigatório.
  3. Festa Julina com fogueira, quentão, música por conta dos participantes (traga seu violão) e bate-papo. Junto ao recanto do sabor às 20 Hrs. Vcs podem trazer ingredientes prontos ou a serem confecionados durante a tarde no Recanto do Sabor (sugestão: batata doce, espiga de milho, cebola graúda, chás, canjica, bolo de milho e quentão de gengibre, pão etc.) Hora provável : 19h00 de sábado.
  4. café da manhã comunitário ou individual no domingo às 8h00 (ingredientes compartilhados) - Não obrigatório
  5. Encontro com partilha e mini palestra a cargo de Theo e Sirpa sobre a história da Ilha e destinos do espaço às 9h30 de domingo no Recanto do Sabor ou Quadra de Bocha (conformne o número de inscritos). Possível lançamemto de Livro ( "...Uma Ilha Espiritual" ) pela Internet.
  6. Almoço a ser combinado, na Ilha ou em restaurantes próximos.
  7. Saída da Ilha até 18h00 de domingo.

As inscrições devem ser feitas pelo email da Ilha até 22 de Julho
ilhadofuturo8@yahoo.com.br

ou no telefone: 24 9998 5755

com depósito antecipado na conta:
44304-2 Ag 131-7 do Banco do Brasil em nome de Theo e/ou Sirpa Mendes

Inscrições até 30 pessoas!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ocupação no Iraque causa revolta em veterano

Veterano de guerra do Iraque relata os reais motivos que levaram os Estados Unidos à invasão no Iraque e põe muita gente para pensar

Mike Prysner é o nome de um veterano. Assim como milhões de soldados que atuaram na frente de batalha em guerras vãs, Mike e outros veteranos assumiram publicamente sua indignação e revolta contra a guerra em manifestações veementes contra a ocupação norte-americana no Iraque. Em discurso emocionante, Mike deu seu grito de consciência tentando despertar o povo norte-americano para a absurdez com que os governantes do seu país cumulam altas cifras “vendendo guerras”.

O público, no caso, foi formado por membros e convidados da associação Iraq Veterans Against War (IVAW – Ex-combatentes no Iraque Contra a Guerra), unidos num encontro chamado de Winter Soldiers (Soldados de Inverno), onde vários ex-combatentes deram seus depoimentos. Porém, nenhum tão contundente quanto o de Prysner, que foi transformado em vídeo e divulgado amplamente pelo realizador Michael Moore em seu site www.michaelmoore.com e pelo site alternativo Common Dreams, www.commo,dreams.org.

O mesmo vídeo também foi veiculado no yutube, mas nem isso serviu para despertar o interesse da mídia. Esta, ao contrário, parece ter menosprezado a importância de tal manifestação, que não se ancora apenas na indignação de soldados e suas famílias traumatizadas, mas se estende aos interesses de uma humanidade que ruma, passo a passo, para uma nova visão de mundo dentro de um processo flagrante de espiritualização.

Em cada frase de um discurso lúcido e sentido, Mike revela a mesma consciência que cresce em bilhões de cidadãos do globo. Todos temos nossas batalhas pessoais, e todos temos nossas indignações, nossos gritos de mudança na garganta. Mas poucos são os que ousam arriscar tanto a liberdade quanto a vida para se colocar como agente de mudança daquilo que queremos ver mudado à volta.

O exemplo do cabo Mike Prysner transcende os painéis da guerra e os limites estadunidenses para invadir com força e coragem as consciências de todos aqueles que enfim compreendem ter servido, contra os próprios princípios, a causas de uma minoria gananciosa e dolosa para o rebanho terrestre.

Antes de tudo, Prysner enquadra o preconceito racial com pano de fundo para ações que nem de longe justificam a barbárie contra a população pobre e sofrida do Iraque, que em nada se assemelha aos terroristas que soldados como ele deveriam combater. Segue, sempre com propriedade e bom uso das palavras, até a conclusão de que a ocupação do Iraque não passa de uma manobra opulenta que usa oprimidos de um país contra oprimidos de outro país. Mas, pergunto eu, seria este o objetivo da humanidade? Colocarem-se uns contra os outros somando perdas e dores de todos os lados?

Eu não poderia usar senão as próprias palavras de Mike para causar a necessária comoção no leitor. Portanto, resta-me apenas pensar que, lendo a transcrição a seguir, quem sabe você seja o próximo a acordar sua mente para o que de fato ocorre no entorno da sua vida – e da humanidade – e começa a mudar sua postura hoje mesmo?

Eu me esforcei para ter orgulho do meu serviço, mas tudo o que conseguia sentir era vergonha. O racismo não podia mais mascarar a realidade da ocupação. Eles eram gente, eram seres humanos… Desde então passei a sentir culpa toda vez que via homens idosos – como o que não podia andar e carregamos numa maca até que a polícia iraquiana pudesse levá-lo. Sentia culpa toda vez que via uma mãe com suas crianças – como a que chorava histericamente, gritando que nós éramos piores que Saddam enquanto a obrigávamos a sair de sua casa. Eu sentia culpa toda vez que via uma garota jovem, como a que eu agarrei pelo braço e arrastei para a rua. Disseram-nos que lutaríamos contra terroristas. O verdadeiro terrorista era eu. E o verdadeiro terrorismo é essa ocupação. O racismo nos militares tem sido, durante muito tempo, uma ferramenta importante para justificar a destruição ou ocupação de outro país. Tem sido usado muito tempo para justificar a morte, subjugação ou tortura de outro povo. Racismo é uma arma vital usada por esse governo. É uma arma mais poderosa que um rifle, um tanque, um bombardeiro ou um navio de guerra. É mais destrutivo do que um projétil de artilharia, um anti-bunker ou um míssil Tomahwk. Apesar de nosso país fabricar e produzir essas armas, elas são inofensivas se pessoas dispostas a usá-las. Aqueles que nos mandam para a guerra não têm de apertar um gatilho iu lançar morteiros. Eles não precisam lutar na guerra, sua função é vender a guerra. Precisam de um público que esteja de acordo em mandar seus soldados para o perigo. Precisam de soldados dispostos a matar e serem mortos sem questionar. Eles podem gastar milhões em uma simples bomba, mas essa bomba só se torna uma arma quando as divisões militares estão dispostas a seguir as ordens de usá-la. Eles podem mandar um soldado a qualquer parte da Terra, mas só haverá guerra se um soldado concordar em lutar. E a classe dominante, de bilionários que lucram com o sofrimento humano, se preocupam somente em expandir sua riqueza, em controlar a economia mundial. Compreendam que seu poder consiste somente na habilidade de nos convencer de que a guerra, a opressão e exploração são de nosso interesse. Eles sabem que a riqueza deles depende da habilidade de convencer a classe operária a morrer para controlar o mercado de outro país. E nos convencer a matar e a morrer, é baseado na habilidade eles de nos fazer pensar que somos, de alguma forma, superiores. Soldados, marinheiros, marines, aviadores, não têm nada a ganhar com essa ocupação. A grande maioria das pessoas vivendo nos Estados Unidos não tem nada a ganhar com essa ocupação. Na verdade. Nós não somente temos o que ganhar, como sofremos mais por causa disso. Nós perdemos membros e damos nossas vidas de forma traumática. Nossas famílias têm que ver caixões com bandeira descendo a terra. Milhões nesse país sem assistência médica, trabalho ou acesso à educação, e nós vemos o governo gastar 450 milhões de dólares por dia nessa ocupação. Pessoas pobres e trabalhadoras desse país são mandadas para matar pessoas pobres e trabalhadoras de outro país e fazer os ricos mais ricos. Sem o racismo, os soldados perceberiam que têm muito mais em comum com o povo do Iraque do que com os bilionários que nos mandam para a guerra. Eu joguei famílias para a rua no Iraque, mas somente para chegar em casa e encontras famílias jogadas às ruas nesse país, nessa trágica e desnecessária crise imobiliária. Devemos acordar e perceber que nosso verdadeiro inimigo não está em alguma terra distante e não são pessoas cujo nome não conhecemos ou não entendemos a cultura. O inimigo é gente que conhecemos muito bem, e que podemos identificar. O inimigo é uma corporação que nos despede de nosso trabalho quando é lucrativo; é uma companhia de seguros que nos nega assistência quando é lucrativo; é o banco que toma nossas casas quando é lucrativo. Nosso inimigo não está a 5 mil milhas de distância, está bem aqui. Se nos organizarmos, e lutarmos juntos com nossos irmãos e irmãs, nós podemos parar essa guerra, nós podemos parar esse governo, e nós podemos criar um mundo melhor.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Gato e o Guru


Conta a tradição que, na Índia antiga, existia um Guru que costumava se reunir com seus seguidores para orar e também para ajudar os mais necessitados que os procuravam. Assim procediam em todas as suas reuniões.

Ocorre que o Guru tinha um gato. Assim, sempre que todos se reuniam, o gato começava a se enroscar nas pernas dos que ali estavam presentes, perturbando a concentração. Diante do problema, o Guru decidiu amarrar o gato numa árvore. Dessa maneira, sempre que se reuniam para as meditações, amarravam o gato na árvore.

Passou-se o tempo. Morreu o Guru. Assume um outro em seu lugar, e continuava o gato amarrado na árvore. Morreu o gato. Como já estavam acostumados a se concentrar com o gato amarrado na árvore, preocuparam-se em arranjar outro.
Passou-se o tempo. Morreu o gato. Arranjaram outro gato.
Morreu o Guru, mas lá continuava o gato.
Muitos anos depois, essa seita estava discutindo somente os temas referentes ao tipo de gato sagrado que deveria estar amarrado na árvore; qual acorda sagrada com qual deveriam amarrar o gato? A raça do gato sagrado. Em qual tipo de árvore sagrada se deveria amarrar o gato sagrado etc.

Ou seja, tinham confundido completamente o essencial com o acessório. Não tinham tempo para receber os pobres, os miseráveis, para orar e meditar, porque o importante era discutir a cor do gato, tipo de corda etc.

Nos tempos atuais, o que fazem as religiões e o que discutem os seus aspectos? Não se pode vestir de preto. Não se pode comer isto ou aquilo. Temos de nos voltar para Meca. Temos que fazer determinados tipo de sinais religiosos. Católico que é católico não deve ler livros espíritas.
O verdadeiro protestante não pode participar disto ou daquilo. Espírita que é espírita não joga nas loterias. Tal religião é verdadeira – as outras são equívocos cometidos por alguém. O Deus dessa religião é o real. E continua a humanidade a discutir as cores do gato, o tipo de corda e de árvore, esquecidos, no entanto, do essencial que é “o amai-vos uns aos outros” pois tudo o mais nos será dado por acréscimo.
Federações, confederações religiosas, estatutos formalistas, opiniões dogmáticas, purezas doutrinárias, autoridades terrenas em detrimento das “espirituais”, orgulho intelectual, agressões à sensibilidade alheia etc., são marcas do nosso cotidiano e, passamo-se vidas e mais vidas, e os espíritos que ciclicamente reencarnam na Terra repetem-se nas suas fragilidades íntimas, exteriorizando sempre o fruto do seu primitivismo espiritual, independente da religião que abracem, pois nenhuma há que transforme alguém no que ele ainda não é.
Texto extraído do livro Recado Cósmico
Editora Zian. Jan Val Ellam

terça-feira, 22 de junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Rivalidades sociais

Dos passos mais simples, das ações mais corriqueiras, das iniciativas mais inocentes podem se revelar rivalidades inimagináveis, até mesmo entre pessoas desconhecidas.


Há, nas ruas de qualquer metrópole, uma flagrante rejeição das pessoas entre si. Mais que isso, nota-se uma espécie de rivalidade entre os seres humanos que surge do nada e se reflete num estranho comportamento social.

Em maio deste ano, dois vizinhos morreram depois de acirrada discussão por causa do local em que o lixo ficava na calçada na Travessa Chales Gobat, na Vila Lajeado, na região do Jaguaré, zona oeste de São Paulo. Duas vidas por um local de lixo, isto é que é!

Chegamos ao ponto em que, visivelmente, o ser humano perdeu os valores que o poderiam dignificar como gente. Portanto, a reflexão urge, a mudança, o resgate desses valores perdidos, o processo consciente de espiritualização, no sentido de depurar o espírito rumo à excelência do ser, é algo necessário para este mesmo instante.

Mergulhando em todos os contextos onde a rivalidade desemboca no lamaçal de ódio e desvalorização humana, percebemos que, no fundo, em cada um dos agentes humanos, há uma indiferença para com o melhoramento pessoal que também suscita à violência e às calamidades.

A passionalidade passou a ocupar não apenas o âmbito das relações afetivas; invadiu o calabouço dos desejos orgulhosos e tomou conta de tudo o que seja, a seu critério, passível de posse; inclusive, o pedaço de calçada onde se deposita o lixo.

Olhar para as nossas consciências e perceber que o exagero tomou conta do nosso psiquismo, nos levará à consciência de que extrapolamos, sobremaneira, os limites do bom senso na conduta frente ao outro.No lugar de exercermos o nosso livre-arbítrio para determinarmos um caminho mais seguro e certo para a excelência ou a divindade, o usamos para assumirmos o papel de Deus no que concerne a tirar a vida alheia.

Mas quando recairá sobre nós a consciência de tão terrível equívoco?Sobre Caim, quando este tirou a vida de seu irmão, caiu pesadamente o peso da culpa. Ao ser interpelado pelo Criador, assombrou-olhe a consciência de sua desdita e ele próprio desejou a morte. Porém, com toda severidade que a questão exigia no momento, Deus o condenou à vida cercada de indiferença, coisa que fere mais à alma do que a morte, que não passa de uma ocorrência natural de todo aquele que ganhou vida material.

Não bastou, todavia, o exemplo de Caim. Vivemos repetindo o mesmo atentado, através do que, com a mesma fúria deliberada de Caim para com Abel, continuamos a tirar a vida dos nossos irmãos a troco de nada.

Tão incauto e inconsequente comportamento suscitou um medo incontido de gente. Gente temendo gente: é o que há da porta para fora de nossas casas! E, muitas vezes, até mesmo dentro do próprio seio familiar.

A solução para o mal sempre foi o amor, aquele que Jesus exemplificou recomendando que dirigíssemos até mesmo para os nossos inimigos. Mas qual o quê?! A cada vez que abordo uma pessoa estranha na rua para começar uma conversa informal, amigável, gentil, esta outra se assusta, olha feio e responde como se estivesse sendo ofendida.

Isto me fez perceber que, para a infelicidade do sucesso humano na Terra, estamos todos sofrendo do mal da rivalidade social, num mundo em que o próximo, a quem deveríamos amar, não é ninguém mais do que a nossa própria imagem refletida no espelho; e o outro, a quem deveríamos amar também, é o grande inimigo, a quem, no lugar do amor, dedicamos a execução pervertida e potencializada de paixão enraivecida do “olho por olho, dente por dente”.

Para mudar o estado generalizado de rivalidade, a obra deve começar em nós mesmos. Afinal, “é dando que se recebe” é uma lei que não deixou de vigorar nem mesmo para os que não abriram mão da sua violência.

Lúcia Roberta Mello

PROJETO ORBUM NA FRONTEIRA

A todos os ouvintes do Programa Projeto Orbum, informamos que o site da Fronteira da Paz, graças aos esforços do parceiro e amigo Júlio Reineckhen, está retransmitindo o nosso programa todas às quartas-feiras, às 20h00.
Para quem quiser acessar e ouvir de novo, o endereço é:


www.fronteiradapaz.com.br/radioaovivo.php

sábado, 15 de maio de 2010

Carpe diem

“Carpe diem quam minimum credula postero”…
Colhe o instante sem confiar no amanhã, diz Homero em seu poema.

Viver o tempo presente é desafio inimaginável para profissionais vinculados a setores de planejamento. Um bom plano empresarial só logra sucesso se contiver metas a serem cumpridas e projeções para, pelo menos, cinco anos à frente.

O ser humano, porém, enquanto célula individual de uma sociedade, detentora dos próprios desígnios e 100% responsável por tudo quanto se lhe seja impresso e experienciado no curso de sua história pessoal, desde que se vincule a outro tempo que não o presente, está condenando a si mesmo a um estado mais propenso à ilusão de existir que à plenitude de ser.

Pessoas emotivas raramente alcançam sucesso pessoal, que chamamos comumente de realização, pois estão sempre atreladas a pessoas e coisas fora de si, em geral que não podem controlar e que podem exercer um tipo de influência danosa em sua vida. Sua felicidade está ou na memória do que já viveu, em geral a infância, nos tempos em que se sentia amado pela família, ou no futuro, nos tempos em que serão amados por alguém especial.

Tais pessoas apresentam uma cobrança exagerada da perfeição para o tempo de agora e jamais se satisfazem no instante em que estão porque o comparam com um exigente padrão de satisfação que está naqueles outros tempos, passado e futuro; às vezes num ou noutro, às vezes em ambos.

Em nossos tempos, a vida se tornou muito mais prática e mais capciosa. O alto índice de catástrofes que incide sobre a humanidade, exige uma mudança para uma postura mais prática com relação ao tempo e ao foco da nossa atenção; ao mesmo tempo, precisamos ser mais atentos, também, para os ardis que nos pregam aqueles que desejam a todo custo levar vantagem sobre tudo e todos. O próprio maneirismo do flerte caracteriza esses novos tempos, quando “ficar” substitui o namoro, os casamentos não têm mais o mesmo significado nem a mesma duração e somos impelidos para um modo de vida mais individualista e autônomo.

Por tudo isso, “carpe diem” se tornou um estilo de vida através do qual a lei é viver, curtir ou aproveitar o momento.

Porque tem carga poética, o “carpe diem”, que atravessou incolumemente, mas sem muito entusiasmo, o Arcadismo do século 18, em nossos dias pegou mais que a febre do agora que o Gestaltismo disseminou no mundo no século 20 e, no Brasil, mais especificamente, na década de 70.

Por isso, seja como for, “colhe o dia” de hoje com toda sua madureza, pois amanhã o momento do agora já se terá ido ao chão, tal fruto podre do qual nada se aproveita.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Qualidade de ser e estar através da visão pessoal

O entendimento da vida está na amplitude
com que você olha para ela. Para uma visão estreita, possibilidades restritas;
para uma visão ampla, possibilidades infindas.


O zen budismo, assim como outras tradições orientais, está repleto de metáforas que nos ensinam a importância de alargarmos nossa visão quando olhamos para cada situação de vida. Como no caso daquela em que o mestre manda que seu discípulo tome uma mão de sal, misture a um copo de água e experimente dessa água. O discípulo, após experimentar, acha a água insuportavelmente salgada. Então, o mestre manda que tome do mesmo punhado de sal, misture à água de um lago e depois experimente dela. O discípulo, então, experimenta e percebe que a água está boa. A conclusão é óbvia: quando você percebe a vida numa dimensão mais alargada, aquilo que a torna difícil numa dimensão estreita passa a nem fazer diferença.

Ouvimos, também, o caso dos três pedreiros que estavam num canteiro assentando tijolos. Passa um homem e pergunta aos três, um por um, o que estão a fazer. O primeiro responde que está assentando tijolos, o segundo diz que está erguendo um muro e o terceiro, de visão mais consciente e alargada, responde que está erguendo uma bela catedral.Jesus disse: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. A minha Palavra é a verdade".

Essas coisas são ditas e ouvidas, e causam reações diversas nos seres humanos, mas está na hora, pela maturidade desta nossa humanidade, que nos esforcemos por olhar para a vida de forma mais alargada sempre.

Se você sai de casa pela manhã, vai ao trabalho, cumpre com suas obrigações, ganha o pão, coloca-o na mesa e simplesmente o come e acha que a vida é este ciclo pela sobrevivência, você está assentando tijolos, sua visão é estreita e a vida lhe parecerá sempre um copo de água salgada. Se você percebe, além disso, necessidades de melhora à volta e faz alguma coisa para contribuir com a qualidade de vida do outro, você avançou um tanto mais; é como tomar consciência de que está levantando um muro. Porém, se você vai para a vida com espírito questionador, procurando saber o que mais existe além de seus olhos fechados, além da cortina invisível de ar à sua frente ou da espessa camada de água do oceano, ou mesmo que mistérios se escondem nas estrelas, você se põe a caminho de encontrar a verdade oculta anunciada por Jesus.

Como disse Saint Exupèry em O Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível para os olhos”. Portanto, deve ser buscado com a certeza de que há uma verdade maior orquestrando a vida. Olhar para isto, cavar esta verdade, é como jogar um punhado de sal no lago e saber que o mesmo não sofrerá alteração ou tomar consciência da bela catedral que se está construindo com o simples fato de assentar tijolos.

É estranho como as pessoas caminham pela vida sem interesse naquilo que foge aos seus interesses pessoais cotidianos.Acaso você sabe o que está ocorrendo no mundo hoje? Você consegue perceber as estratégias do governo que lhe rege? Você sabe reconhecer a intenção por trás de cada ação de alguém?

Chegamos a um ponto em que o conhecimento não pode estagnar no degrau primário do ensino escolar ou do cotidiano da sobrevivência, ele precisa evoluir para os assuntos que embasam a existência humana e esclarecem à humanidade seu contexto cósmico-universal.

Basta de deixarmos a história para ser escrita por vencedores, dominadores e déspotas que não se importam muito com o que você tem para contar, com o que viveu; temos de olhar com atenção plena para o que está acontecendo nos bastidores das nossas vidas para contarmos em tempo real as mudanças que estão ocorrendo no mundo agora. Só assim garantiremos um futuro honesto para nossos filhos e filhos honestos para o mundo do futuro.

Se continuarmos todos olhando para a vida através do foco estreito do pessoal, que qualidade nós daremos às nossas vidas? A quem estamos, portanto, delegando o direito de exercer decisão e poder em nossas vidas?