Quando a questão é votar em que e não em quem, é sinal de que estamos muito mal servidos de candidatos. Afinal, quem é que pode representar o povo na presidência do Brasil?
Vergonhosamente, a campanha final para as eleições presidenciais de 2010 se transformou em palco para uma batalha inglória da qual o povo sai perdendo mais. A onda do eu fiz isto, o outro lado fez aquilo, parece mais um teatro armado para distrair a nossa atenção, impedindo-nos de ver que, de fato, faltam propostas sérias para o nosso futuro.
Ambos os candidatos querem fazer o país continuar avançando. Porém, muitas vezes, avançar significa atirar-se no abismo da inconsequência. E eu, realmente, não sei dizer para onde cada um pode mesmo levar nossa nação.
O Lula, sem dúvida, é um ícone nacional. Sua diplomacia, forjada nas máquinas de fundição sindical, deu-lhe o carisma necessário para conquistar a massa e dois mandatos seguidos. Caso tivesse sido barrado antes do segundo mandato, o país teria ficado numa situação insustentável, já que ele tirou os quatro primeiros anos para viajar para o exterior, negociando com os poderes do mundo o que FHC planejou, mas não realizou. Pagou a dívida externa com o dinheiro da segurança e da saúde nacionais, usando o “bolsa família” para barganhar votos com a massa.
Os investimentos com marketing, que constituíram prioridade em todo o primeiro mandato de Lula, mais uma vez surtiram efeito positivo para o governo, que se reelegeu.
O plano “fome zero” que elegeu Lula pela primeira vez, não se cumpriu; mas ele se deu por satisfeito com o pouco que fez e lançou o PAC, que também não se cumpriu. Como disse Marina em sua campanha de eleição no primeiro turno, “o PAC não é um planejamento, mas um acúmulo de projetos”; e o governo não conseguiu concretizar nem 50% dos objetivos da primeira versão do programa.
Apesar de o próprio presidente Lula reconhecer esta marca, o governo anunciou, em julho deste ano, o PAC 2, para iludir o povo de que o país está “avançando”.
O mesmo mote de campanha, que nada mais é do que o velho modelo “pão e circo” romano, conquista, para o segundo e derradeiro turno, as camadas mais pobres, O problema é que esta grande fatia da sociedade não se preocupa com a ameaça da volta à censura na imprensa ou se as áreas verdes serão mais e mais devastadas para sustentar um plano incabível de reforma agrária a que deram o nome de “Código Florestal”. Basta que lhe garantam a “bolsa família” e, se for possível, um pouco mais de saúde, setor tão desprezado até então pelo governo Lula.
A saúde, que sempre foi a marca principal do Serra, na campanha deste candidato aparece em alta, e é reforçada pelo pequeno aumento no salário mínimo e inclusão do 13º no “bolsa família”. Como Marina e PV não se posicionaram a favor de nenhum dos dois, Serra se apropria da imagem da bandeira verde para falar de meio ambiente, mas nada tão sério que garanta projetos sustentáveis.
Serra é o candidato da moderação. É comedido em tudo o que faz e não tem a ousadia de um Lula. O aumento do índice percentual de intenções de voto para Serra fez com que a bolsa de valores subisse, o que denota que os empresários preferem apoiar uma economia mais estável, que é o que se consegue com Serra. Mas, até onde se pode confiar nessa estabilidade com Serra na presidência e uma maioria petista no senado e na câmara?
Notadamente, nosso problema não é em quem votar, mas em quê.
Da minha parte, creio que o Brasil precisa de alguém no poder com idoneidade, lucidez frente às necessidades sociais, ambientais e econômicas e com iniciativa própria, sabendo o que faz. Por isso meu voto no primeiro turno foi para Marina Silva.
Alguém como Marina, que aprendeu sozinha e resistiu ao ninho petista sem vender a própria alma, tem ao mesmo tempo a ousadia necessária para fazer o país avançar e a prudência para lidar com esse avanço de maneira segura e positiva, pensando não só no agora, mas também no porvir.
Porém, nós perdemos a chance de eleger Marina nesta eleição. Então, votaremos em quê? No PT, que seguramente fará de Dilma sua marionete para assumir declaradamente o poder e avançar, sim, mas com sua estratégia ditatorial, ou no PSDB e suas coligações, que puxam de volta o estado morno que coloca o país sempre no tempo futuro?
Pessoalmente, não sei o que fazer. Como o principal, que é a educação, ficou de lado tanto do lado de Dilma quanto do lado de Serra, que apresentaram propostas sem expressão e muito mal elaboradas, meu coração diz “anule” e confie apenas no povo, com sua capacidade de discernir o que é bom e o que é perigoso.
Se der Dilma, que estejamos preparados para clamarmos pelo impeachment na primeira punhalada em nome da ditadura e da censura. E, se der Serra, que estejamos preparados para cobrarmos algo a mais do que ele promete, sobretudo, nos quesitos educação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente.
No mais, desejo a todos um excelente dia de votação.
Lúcia Roberta Mello
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