sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ocupação no Iraque causa revolta em veterano

Veterano de guerra do Iraque relata os reais motivos que levaram os Estados Unidos à invasão no Iraque e põe muita gente para pensar

Mike Prysner é o nome de um veterano. Assim como milhões de soldados que atuaram na frente de batalha em guerras vãs, Mike e outros veteranos assumiram publicamente sua indignação e revolta contra a guerra em manifestações veementes contra a ocupação norte-americana no Iraque. Em discurso emocionante, Mike deu seu grito de consciência tentando despertar o povo norte-americano para a absurdez com que os governantes do seu país cumulam altas cifras “vendendo guerras”.

O público, no caso, foi formado por membros e convidados da associação Iraq Veterans Against War (IVAW – Ex-combatentes no Iraque Contra a Guerra), unidos num encontro chamado de Winter Soldiers (Soldados de Inverno), onde vários ex-combatentes deram seus depoimentos. Porém, nenhum tão contundente quanto o de Prysner, que foi transformado em vídeo e divulgado amplamente pelo realizador Michael Moore em seu site www.michaelmoore.com e pelo site alternativo Common Dreams, www.commo,dreams.org.

O mesmo vídeo também foi veiculado no yutube, mas nem isso serviu para despertar o interesse da mídia. Esta, ao contrário, parece ter menosprezado a importância de tal manifestação, que não se ancora apenas na indignação de soldados e suas famílias traumatizadas, mas se estende aos interesses de uma humanidade que ruma, passo a passo, para uma nova visão de mundo dentro de um processo flagrante de espiritualização.

Em cada frase de um discurso lúcido e sentido, Mike revela a mesma consciência que cresce em bilhões de cidadãos do globo. Todos temos nossas batalhas pessoais, e todos temos nossas indignações, nossos gritos de mudança na garganta. Mas poucos são os que ousam arriscar tanto a liberdade quanto a vida para se colocar como agente de mudança daquilo que queremos ver mudado à volta.

O exemplo do cabo Mike Prysner transcende os painéis da guerra e os limites estadunidenses para invadir com força e coragem as consciências de todos aqueles que enfim compreendem ter servido, contra os próprios princípios, a causas de uma minoria gananciosa e dolosa para o rebanho terrestre.

Antes de tudo, Prysner enquadra o preconceito racial com pano de fundo para ações que nem de longe justificam a barbárie contra a população pobre e sofrida do Iraque, que em nada se assemelha aos terroristas que soldados como ele deveriam combater. Segue, sempre com propriedade e bom uso das palavras, até a conclusão de que a ocupação do Iraque não passa de uma manobra opulenta que usa oprimidos de um país contra oprimidos de outro país. Mas, pergunto eu, seria este o objetivo da humanidade? Colocarem-se uns contra os outros somando perdas e dores de todos os lados?

Eu não poderia usar senão as próprias palavras de Mike para causar a necessária comoção no leitor. Portanto, resta-me apenas pensar que, lendo a transcrição a seguir, quem sabe você seja o próximo a acordar sua mente para o que de fato ocorre no entorno da sua vida – e da humanidade – e começa a mudar sua postura hoje mesmo?

Eu me esforcei para ter orgulho do meu serviço, mas tudo o que conseguia sentir era vergonha. O racismo não podia mais mascarar a realidade da ocupação. Eles eram gente, eram seres humanos… Desde então passei a sentir culpa toda vez que via homens idosos – como o que não podia andar e carregamos numa maca até que a polícia iraquiana pudesse levá-lo. Sentia culpa toda vez que via uma mãe com suas crianças – como a que chorava histericamente, gritando que nós éramos piores que Saddam enquanto a obrigávamos a sair de sua casa. Eu sentia culpa toda vez que via uma garota jovem, como a que eu agarrei pelo braço e arrastei para a rua. Disseram-nos que lutaríamos contra terroristas. O verdadeiro terrorista era eu. E o verdadeiro terrorismo é essa ocupação. O racismo nos militares tem sido, durante muito tempo, uma ferramenta importante para justificar a destruição ou ocupação de outro país. Tem sido usado muito tempo para justificar a morte, subjugação ou tortura de outro povo. Racismo é uma arma vital usada por esse governo. É uma arma mais poderosa que um rifle, um tanque, um bombardeiro ou um navio de guerra. É mais destrutivo do que um projétil de artilharia, um anti-bunker ou um míssil Tomahwk. Apesar de nosso país fabricar e produzir essas armas, elas são inofensivas se pessoas dispostas a usá-las. Aqueles que nos mandam para a guerra não têm de apertar um gatilho iu lançar morteiros. Eles não precisam lutar na guerra, sua função é vender a guerra. Precisam de um público que esteja de acordo em mandar seus soldados para o perigo. Precisam de soldados dispostos a matar e serem mortos sem questionar. Eles podem gastar milhões em uma simples bomba, mas essa bomba só se torna uma arma quando as divisões militares estão dispostas a seguir as ordens de usá-la. Eles podem mandar um soldado a qualquer parte da Terra, mas só haverá guerra se um soldado concordar em lutar. E a classe dominante, de bilionários que lucram com o sofrimento humano, se preocupam somente em expandir sua riqueza, em controlar a economia mundial. Compreendam que seu poder consiste somente na habilidade de nos convencer de que a guerra, a opressão e exploração são de nosso interesse. Eles sabem que a riqueza deles depende da habilidade de convencer a classe operária a morrer para controlar o mercado de outro país. E nos convencer a matar e a morrer, é baseado na habilidade eles de nos fazer pensar que somos, de alguma forma, superiores. Soldados, marinheiros, marines, aviadores, não têm nada a ganhar com essa ocupação. A grande maioria das pessoas vivendo nos Estados Unidos não tem nada a ganhar com essa ocupação. Na verdade. Nós não somente temos o que ganhar, como sofremos mais por causa disso. Nós perdemos membros e damos nossas vidas de forma traumática. Nossas famílias têm que ver caixões com bandeira descendo a terra. Milhões nesse país sem assistência médica, trabalho ou acesso à educação, e nós vemos o governo gastar 450 milhões de dólares por dia nessa ocupação. Pessoas pobres e trabalhadoras desse país são mandadas para matar pessoas pobres e trabalhadoras de outro país e fazer os ricos mais ricos. Sem o racismo, os soldados perceberiam que têm muito mais em comum com o povo do Iraque do que com os bilionários que nos mandam para a guerra. Eu joguei famílias para a rua no Iraque, mas somente para chegar em casa e encontras famílias jogadas às ruas nesse país, nessa trágica e desnecessária crise imobiliária. Devemos acordar e perceber que nosso verdadeiro inimigo não está em alguma terra distante e não são pessoas cujo nome não conhecemos ou não entendemos a cultura. O inimigo é gente que conhecemos muito bem, e que podemos identificar. O inimigo é uma corporação que nos despede de nosso trabalho quando é lucrativo; é uma companhia de seguros que nos nega assistência quando é lucrativo; é o banco que toma nossas casas quando é lucrativo. Nosso inimigo não está a 5 mil milhas de distância, está bem aqui. Se nos organizarmos, e lutarmos juntos com nossos irmãos e irmãs, nós podemos parar essa guerra, nós podemos parar esse governo, e nós podemos criar um mundo melhor.

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