terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cara a cara com os dragões

Mitos, lendas e muita imaginação são os componentes mais frequentes na hora de rechear a torta das verdades que buscamos. Cada um usa o recheio que quer, mas a massa podre da torta é feita com fragmentos da memória que trazemos de tempos longínquos, muitos anteriores a Terra, e alguns poucos anteriores a este Universo.
Dizem que um bom prato depende da mão do cozinheiro; eu digo que quem faz a fama de um cozinheiro é o paladar de quem degusta. E quem se dispõe a provar verdades deve estar disposto a gostar do amargo. Porque, nesta humanidade, as pessoas encontram doce nas ilusões que acomodam o ego na zona pessoal de conforto, deixando o amargo para as verdades libertadoras da alma.
Este é um assunto muito profundo e sério, por isso o inicio com analogias. Trata-se, todavia, do encontro com a nossa própria verdade cósmico-espiritual.
Quando crianças, sofremos o aprendizado de que doces são prêmios de consolação, de aprovação e de comemoração pelo afeto trocado com nossos pais e tutores; e aprendemos que o amargo é o remédio para prevenir dos males ou curar nossas doenças. E porque preferimos aos doces, tornamo-nos mimados e caprichosos, barganhando os nossos favores em troca do que mais nos apetece. Depois de um tempo, amargo mesmo, só em situações extremas.
Na vida espiritual fazemos o mesmo. Vivemos num mundo de doces ilusões, barganhamos nossos potenciais por facilidades e visamos atender mais aos desejos do ego que aos do espírito. Rejeitamos, por outro lado, o trabalho do melhoramento íntimo, o mergulho na profundeza da nossa alma, onde reside a memória do espírito que somos, cuja verdade nos parece amarga.
Isto resolveu nossos problemas durante algum tempo, mas agora a maturidade espiritual recai sobre nossos ombros e não há mais como tapar os olhos para a realidade. Insistente e amorosamente, ela bate à porta da nossa geração gritando que não vai embora enquanto não conseguir entrar em nossas consciências.
Adultos vão ao amargo por conhecerem o bem que o amargo leva à preservação da saúde, Assim é com os espíritos maduros: vão à verdade porque sabem que, ainda que amarga para o ego, ela é doce quando revela o divino em nós.
Desvendar os mistérios da alma é passar pelo vale amargo das verdades do nosso passado no mal para reencontrar o néctar divino da centelha sagrada que habita em todos nós: nosso eu superior.
O problema do ser humano, como bem diz Robson Pinheiro em seu livro “Legião – Um olhar sobre o reino das sombras", é que todo mundo quer ser apenas luz, negando a sombra que existe dentro de si.
Jesus disse: “Vinde a mim as criancinhas”, e não vinde a mim os espíritos infantis apegados a seus caprichos. Conquanto, ele falou e agiu pelos doentes, e não pelos sãos.
A modernidade que descende do século 20 veio preparando a humanidade para entrar em contato com a própria sombra de uma maneira suportável. Com a onda de autoajuda que assolou o ocidente, muitas ferramentas brotaram no mundo esotérico: os florais, o Jogo da Transformação, a popularização do Maha Lila, do I Ching e do Tarô de autoconhecimento, o Reiki e seus derivados, o Renascimento (técnica terapêutica de respiração) a Cinesiologia Terapêutica, o RPG e muitas outras.
Do Jogo da Transformação, que foi desenvolvido pela Findhorn Foundation, uma comunidade de pessoas com experiências e partilhas voltadas para a vida holística, construída em sistema sustentável de ecovila (uma das primeiras ecovilas do mundo), é um jogo cuidadosamente criado para imitar a experiência da reencarnação e identificar o modo próprio que a pessoa utiliza para caminhar por essa trilha nos níveis físico, emocional, mental e espiritual.
Inspirada no jogo, Sônia Café, que é uma das focalizadoras do jogo, escreveu livros como “Meditando com os Anjos” e o “Livro das Atitudes”.
Formada em Letras, Sônia Café atuou como consultora editorial da Editora Pensamento-Cultrix durante 20 anos. Hoje é pesquisadora da empresa Amana-Key para assuntos ligados ao desenvolvimento da consciência humana. No início dos anos 80 participou da criação da Uniluz, centro de vida espiritual e educação holística localizado em Nazaré Paulista, hoje transformado em Universidade da Luz, onde continua atuando como associada e conselheira.
Foi nesta comunidade de Nazaré Paulista que eu a conheci e tive contato com o seu livro “Transformando Dragões”, onde Sônia relaciona 64 dragões muito graciosos que mostram os padrões negativos com que atuam em nosso comportamento, e a forma de transformá-los, pela alquimia interior, em padrões positivos.
Foi desde então que eu percebi que a estratégia da luz de inspirar ferramentas de transformação real estava em andamento na Terra. E pela primeira vez de uma forma popular ou que se poderia popularizar, ousava mostrar que é possível transformar o íntimo rapidamente, derrubando a perspectiva de distanciamento infinito entre nossa personalidade e nosso deus interior que até então formava a visão geral dos interessados em melhoramento pessoal.
O movimento esotérico, apesar de muitas vezes representar uma maquiagem para os falsos neófitos do bem, serviu e serve para trazer à mente humana encarnada a ideia de que é possível, a qualquer um de nós, acender a luz da alma, reintegrar-se a Deus e vencer o mal que fora implantado em nossos padrões há muito tempo.
Os dragões de Sônia Café deram forma às mudanças que fizemos em nós desde os tempos em que o mal foi disseminado na raça humana terrena, mostrando-nos claramente como agimos em comunhão com tais influências, ao mesmo tempo em que nos revela seu oposto positivo, tornando-o acessível.
Tudo isso foi e é muito bom, mas está inserido apenas no contexto psíquico dos seres humanos terrenos. E, especialmente os dragões, não poderiam ser vistos apenas pela imagem reflexa de um psiquismo corrompido. Teríamos, mais cedo ou mais tarde, de enfrentá-los cara a cara, não apenas dentro de nós, mas em seu berço; e, se não pessoalmente, através da revelação do que está por trás das cortinas que separam a consciência encarnada da realidade espiritual.
Quem finalmente descortina para o mundo essa realidade é Robson Pinheiro, através da trilogia O Reino das Sombras, uma obra tratada com rara seriedade o lado obscuro desta humanidade, e que deve ser lida e estudada por todo aquele que se diz espírita ou todo aquele interessado na vida espiritual, pelo menos.
Se o esoterismo revelou as faces psíquicas do mal em nós, o trabalho de Robson Pinheiro revela onde e como esse mal reinou aqui na Terra e onde e como seus representantes atuaram e, infelizmente, ainda atuam.
É prudente, todavia, que os munamos de cautela ao tentarmos compreender a matéria e fugirmos do determinismo característico do modo dedutivo daqueles que possuem pouco conhecimento.
Os “dragões do mal”, como Robson Pinheiro denomina os seres vinculados à causa maligna oriunda do processo conhecido na Terra como Rebelião de Lúcifer, não representam toda a espécie de extraterrestres que se vitimaram com o distúrbio vibratório que marcou a rebelião luciferiana, de modo que nem todo exilado de Capella que veio para a Terra é um dragão do mal ou um draconiano.
Também é lícito dizer que nem todo aquele que sobreviveu no mal às ações de resgate da luz é oriundo de uma mesma raça cósmica.
Estes são assuntos muito mais amplos e profundos do que o que nos é permitido tratar com esses estudos, de modo que devemos, outrossim, beber de muitas fontes e aguardar o tempo do entendimento real destas coisas.
Que sejam, pois, estudados, estes temas, mas jamais tomados como guia para nossas vidas, a não ser no aspecto de investirmos sempre e continuadamente, com a maturidade alcançada, em nosso melhoramento íntimo.

Um comentário:

  1. Salutar a advertência de se tratar de modo prudente a questão do mal e a problemática dos dragões e entidades coligadas e seu impacto no desenvolvimento da humanidade terrestre.

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