domingo, 3 de maio de 2009

Beleza de alma

"Feliz daquele que crê mesmo sem ter visto".
As palavras de Jesus se referem, sobretudo, à inabilidade humana em ver além do que seus olhos lhe contam.
Assim é muitas vezes com relação a Deus. Há pessoas que, por não vê-Lo, também não creem nEle.
Considerando o estado generalizado de ignorância que marca nossa humanidade, podemos compreender tal lógica. Afinal, são muitas as pessoas que se apoiam apenas em seus cinco sentidos para estabelecer suas crenças e valores perante o mundo.
O contrário, infelizmente, causa um problema bem maior, difícil mesmo de ser aceito ou compreendido: o preconceito entre um ser humano e outro.O mundo tem exibido cenas terríveis de guerras, matanças e desordens iniciadas apelas pelo preconceito de alguém.
Preconceito racial, preconceito cultural ou social... Estamos habituados a ver esses tipos de preconceito por aí. Tão acostumados, que muita vezes nos falta voz à indignação e até a própria inignação.o preconceito da feiura não é tão alarmado, mas é um dos mais comuns. Associamos feiura a muitas outras coisas que rejeitamos, tais: ignorância, pobreza, incapacidade, insucesso e até falta de talento.
O fenômeno inglês Susan Boyle, com muita simpatia e talento, deixou o mundo boquiaberto com seu espetacular talento para cantar.
Não foi a primeira vez que isso ocorreu. Na mesma Inglaterra, no mesmo programa de calouros, Paul Potts também chocoupositivamente o público. Paul deu um tapa com luva de pelica no preconceito daqueles que, vendo a extrema singeleza e aspecto pouco agradável do calouro, não imaginaram que ele poderia surprender executando com excelência comparável aos maiores cantores de ópera que o mundo já viu.
Nessun Dorma ganhou um novo dignificado na voz de Paul, assim como o canto ganhou um novo significado na voz de Susan.
Em verdade, esperamos que a humanidade inteira tenha dado um novo significado à palavra beleza. E, se o essencial é invisível aos olhos, que os corações se abram a toda hora para que nunca mais o preconceito nos prive do olhar sensível da alma.
Para conferir o talento de Paul Petts:
Para conferir o talento de Susan Boyle:

sábado, 2 de maio de 2009

Fim de ato para Augusto Boal

Um dia que nos oprime. Um dramaturgo que se vai deixando saudade e um legado revolucionário em prol dos direitos humanos e da construção de um mundo melhor.
Augusto Boal, carioca da Penha, foi o criador do Teatro do Oprimido. Marcou a história do teatro nacional como diretor, dramaturgo e ensaísta. Nasceu brasileiro, mas seu nome ultrapassou as fronteiras internacionais como aquele que aliou o teatro às ações sociais.
Seu ideal de popularização do teatro foi abraçado pelas escolas, ajudou na recuperação de pacientes mentais e amoleceu até mesmo as grades fortes dos presídios, e continua atuando, nos mais diferentes setores onde a cultura se une ou pode se unir à educação para a construção da verdadeira cidadania.
Um escritor de vanguarda nem sempre compreendido ou aceito. Com sua vasta atuação no Teatro de Arena, em São Paulo, que desde sua fundação pretendeu priorizar peças brasileiras com atores também brasileiros, contrapondo a tendência usual, especialmente, do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), que investia em talentos europeus, notadamente, italianos. A este propósito, Boal somou o seu, de produzir espetáculos de baixo custo para trazer o público de baixa renda para o teatro.
Se a intenção era louvável, os resultados não lhe fizeram jus. Já à beira da falência total, o Teatro de Arena enfim deu a volta por cima com o espetáculo Eles não Usam Black Tie, do jovem ator italiano, recém-chegado ao Brasil, Gianfrancesco Guarnieri.
A partir de então, Boal começou a desenvolver uma direção que preservava cada vez mais a personalidade brasileira.
O sucesso de Black Tie durou 1 ano inteiro, o que permitiu a criação dos Seminários de Dramaturgia, através dos quais se pretendia revelar novos talentos nacionais, tanto atores quanto diretores.
A fase seguinte do Arena abriu espaço para os musicais. A essa altura, a dobradinha Boal e Guarnieri já estava consolidada. Notava-se, então, uma forte influência do dramaturgo alemão Bertold Brecht, no sentido de usar o teatro como veículo para suscitar discussões políticas e sociais.
Com o Golpe Militar de 64, a forte repressão da Ditadura Militar começou, também, a atingir o Teatro de Arena e o trabalho de Boal. Todavia, já crescia em sua mente uma visão política comprometida com o povo e interessada na qualidade da formação do cidadão.
Boal, então, enormemente influenciado pelo trabalho de Paulo Freire, começa a pensar no que viria a ser o Teatro do Oprimido.
Com o Ato Institucional nº 5, o Arena viaja para outros países latinos, inclusive, Argentina. Mas a perseguição no Brasil é clara e dá muito trabalho a pessoas como Boal, que chegou a ser preso, torturado e exilado.
Assim, o Teatro do Oprimido começou a ser desenvolvido no Brasil, em 1971, mas, com o exílio, foi na França que realizou seu primeiro laboratório do Teatro do Oprimido.
O trabalho no exterior ajudou a propagar as ideias de Augusto Boal, que tem suas obras publicadas em cerca de 20 países, inclusive, na China.
Em 1992, foi eleito vereador pelo PT, no Rio de Janeiro. Foi quando criou o Teatro Legislativo, que consistia em pequenas peças que, na verdade, eram propostas e projetos de leis.
Foi consagrado Embaixador Mundial do Teatro e, no ano de 2008, indicado ao prêmio Nobel da Paz.
Em suas palavras, um ideal e uma nova visão para o mundo:
“cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas aquele que a transforma”.
Augusto Boal tornou-se cidadão imortal por sua obra, e devemos todo nosso respeito a ele e a tudo que representa.
Em 2 de Maio de 2009, morre Augusto Boal, carioca da Penha, cidadão do mundo. Vitimado pela leucemia, aos 78 anos muito bem vividos e doados.
É um fim de ato. Sai de cena Augusto Boal.
Que Deus o receba nos palcos celestes para que, de lá de cima, os palcos também se iluminem com a presença deste incrível sonhador que através do teatro desejou mudar o mundo.