Um dia que nos oprime. Um dramaturgo que se vai deixando saudade e um legado revolucionário em prol dos direitos humanos e da construção de um mundo melhor.
Augusto Boal, carioca da Penha, foi o criador do Teatro do Oprimido. Marcou a história do teatro nacional como diretor, dramaturgo e ensaísta. Nasceu brasileiro, mas seu nome ultrapassou as fronteiras internacionais como aquele que aliou o teatro às ações sociais.
Seu ideal de popularização do teatro foi abraçado pelas escolas, ajudou na recuperação de pacientes mentais e amoleceu até mesmo as grades fortes dos presídios, e continua atuando, nos mais diferentes setores onde a cultura se une ou pode se unir à educação para a construção da verdadeira cidadania.
Um escritor de vanguarda nem sempre compreendido ou aceito. Com sua vasta atuação no Teatro de Arena, em São Paulo, que desde sua fundação pretendeu priorizar peças brasileiras com atores também brasileiros, contrapondo a tendência usual, especialmente, do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), que investia em talentos europeus, notadamente, italianos. A este propósito, Boal somou o seu, de produzir espetáculos de baixo custo para trazer o público de baixa renda para o teatro.
Se a intenção era louvável, os resultados não lhe fizeram jus. Já à beira da falência total, o Teatro de Arena enfim deu a volta por cima com o espetáculo Eles não Usam Black Tie, do jovem ator italiano, recém-chegado ao Brasil, Gianfrancesco Guarnieri.
A partir de então, Boal começou a desenvolver uma direção que preservava cada vez mais a personalidade brasileira.
O sucesso de Black Tie durou 1 ano inteiro, o que permitiu a criação dos Seminários de Dramaturgia, através dos quais se pretendia revelar novos talentos nacionais, tanto atores quanto diretores.
A fase seguinte do Arena abriu espaço para os musicais. A essa altura, a dobradinha Boal e Guarnieri já estava consolidada. Notava-se, então, uma forte influência do dramaturgo alemão Bertold Brecht, no sentido de usar o teatro como veículo para suscitar discussões políticas e sociais.
Com o Golpe Militar de 64, a forte repressão da Ditadura Militar começou, também, a atingir o Teatro de Arena e o trabalho de Boal. Todavia, já crescia em sua mente uma visão política comprometida com o povo e interessada na qualidade da formação do cidadão.
Boal, então, enormemente influenciado pelo trabalho de Paulo Freire, começa a pensar no que viria a ser o Teatro do Oprimido.
Com o Ato Institucional nº 5, o Arena viaja para outros países latinos, inclusive, Argentina. Mas a perseguição no Brasil é clara e dá muito trabalho a pessoas como Boal, que chegou a ser preso, torturado e exilado.
Assim, o Teatro do Oprimido começou a ser desenvolvido no Brasil, em 1971, mas, com o exílio, foi na França que realizou seu primeiro laboratório do Teatro do Oprimido.
O trabalho no exterior ajudou a propagar as ideias de Augusto Boal, que tem suas obras publicadas em cerca de 20 países, inclusive, na China.
Em 1992, foi eleito vereador pelo PT, no Rio de Janeiro. Foi quando criou o Teatro Legislativo, que consistia em pequenas peças que, na verdade, eram propostas e projetos de leis.
Foi consagrado Embaixador Mundial do Teatro e, no ano de 2008, indicado ao prêmio Nobel da Paz.
Em suas palavras, um ideal e uma nova visão para o mundo:
“cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas aquele que a transforma”.
Augusto Boal tornou-se cidadão imortal por sua obra, e devemos todo nosso respeito a ele e a tudo que representa.
Em 2 de Maio de 2009, morre Augusto Boal, carioca da Penha, cidadão do mundo. Vitimado pela leucemia, aos 78 anos muito bem vividos e doados.
É um fim de ato. Sai de cena Augusto Boal.
Que Deus o receba nos palcos celestes para que, de lá de cima, os palcos também se iluminem com a presença deste incrível sonhador que através do teatro desejou mudar o mundo.
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