“Carpe diem quam minimum credula postero”…
Colhe o instante sem confiar no amanhã, diz Homero em seu poema.
Viver o tempo presente é desafio inimaginável para profissionais vinculados a setores de planejamento. Um bom plano empresarial só logra sucesso se contiver metas a serem cumpridas e projeções para, pelo menos, cinco anos à frente.
Viver o tempo presente é desafio inimaginável para profissionais vinculados a setores de planejamento. Um bom plano empresarial só logra sucesso se contiver metas a serem cumpridas e projeções para, pelo menos, cinco anos à frente.
O ser humano, porém, enquanto célula individual de uma sociedade, detentora dos próprios desígnios e 100% responsável por tudo quanto se lhe seja impresso e experienciado no curso de sua história pessoal, desde que se vincule a outro tempo que não o presente, está condenando a si mesmo a um estado mais propenso à ilusão de existir que à plenitude de ser.
Pessoas emotivas raramente alcançam sucesso pessoal, que chamamos comumente de realização, pois estão sempre atreladas a pessoas e coisas fora de si, em geral que não podem controlar e que podem exercer um tipo de influência danosa em sua vida. Sua felicidade está ou na memória do que já viveu, em geral a infância, nos tempos em que se sentia amado pela família, ou no futuro, nos tempos em que serão amados por alguém especial.
Tais pessoas apresentam uma cobrança exagerada da perfeição para o tempo de agora e jamais se satisfazem no instante em que estão porque o comparam com um exigente padrão de satisfação que está naqueles outros tempos, passado e futuro; às vezes num ou noutro, às vezes em ambos.
Em nossos tempos, a vida se tornou muito mais prática e mais capciosa. O alto índice de catástrofes que incide sobre a humanidade, exige uma mudança para uma postura mais prática com relação ao tempo e ao foco da nossa atenção; ao mesmo tempo, precisamos ser mais atentos, também, para os ardis que nos pregam aqueles que desejam a todo custo levar vantagem sobre tudo e todos. O próprio maneirismo do flerte caracteriza esses novos tempos, quando “ficar” substitui o namoro, os casamentos não têm mais o mesmo significado nem a mesma duração e somos impelidos para um modo de vida mais individualista e autônomo.
Por tudo isso, “carpe diem” se tornou um estilo de vida através do qual a lei é viver, curtir ou aproveitar o momento.
Porque tem carga poética, o “carpe diem”, que atravessou incolumemente, mas sem muito entusiasmo, o Arcadismo do século 18, em nossos dias pegou mais que a febre do agora que o Gestaltismo disseminou no mundo no século 20 e, no Brasil, mais especificamente, na década de 70.
Por isso, seja como for, “colhe o dia” de hoje com toda sua madureza, pois amanhã o momento do agora já se terá ido ao chão, tal fruto podre do qual nada se aproveita.